Chefs investem em confraria para formar novos talentos

Em Monte Verde, no Sul de Minas Gerais, quatro mestres da gastronomia se unem para repassar conhecimentos aos aprendizes da arte do bom paladar.

 

Se até pouco tempo Monte Verde, distrito da mineira Camanducaia, constituía-se em um destino romântico e procurado basicamente por casais, de uns tempos para cá, isso mudou. Hoje, o vilarejo desperta a paixão de turistas também por sua inovadora gastronomia.

A avenida principal de Monte Verde é toda enfeitada por floreiras. Foto: Airbn 

A mudança de público-alvo do distrito – agora também direcionado às famílias e às pessoas da melhor idade –, foi motivada sobretudo pela pandemia. Entre outras consequências, o Covid-19 impede as viagens ao Exterior, favorecendo o desenvolvimento do turismo nacional. Caso de Monte Verde.

Localizado a 170 km da capital paulista e a 350 km de Belo Horizonte, a capital de Minas, o distrito é uma das regiões brasileiras que vem crescendo em termos de opções de hospedagem e de novos investimentos – atualmente, conta com mais de 200 meios de hospedagem e aproximadamente 50 restaurantes.

As flores e as altíssimas araucárias fazem parte da paisagem de Monte Verde. Foto: Move

Mestres do sabor – Os investimentos também resultaram em uma mudança no cardápio e na proposta dos restaurantes locais, trazendo ainda novos endereços gastronômicos para Monte Verde. Um dos exemplos foi a empresária Fernanda Martins, que deixou a região do Alto Tietê, em São Paulo, para inaugurar a Do Divino – Café & Comidinhas.

Paulista de Itaquaquecetuba, a chef chegou em Monte Verde há pouco mais de um ano e meio e se consolidou na elaboração de doces diferenciados, tendo como proposta principal transformar o chocolate em algo mais surpreendente. A chef é autodidata, embora tenha feito vários cursos de aperfeiçoamento em confeitaria. Hoje, aos 36 anos, comanda o Do Divino.

Marcelo Cardoso Lopes, da Osteria Piccollo Cucina e Vino é outro chef que vem revolucionando a gastronomia de Monte Verde. Ele só tem 25 anos e um currículo invejável. Nascido em Camanducaia (MG), fez gastronomia na Universidade Metodista, com pós-graduação de Cozinha Avançada no Senac/SP.

As massas e os produtos naturais são a base do cardápio da Osteria Piccola. Foto: Divulgação

Com apenas seis meses de funcionamento, a casa que Cardoso Lopes comanda é especializada em massas artesanais, embutidos e molhos especiais. A maioria dos pratos oferecidas no cardápio de seu restaurante é integrada por produtos orgânicos e naturais.

O chef também apoia a agricultura local – o Sul de Minas Gerais produz excelentes queijos, embutidos, leites e derivados puros e frutas e verduras frescas. E a Osteria Piccolo utiliza todos esses ingredientes para servir pratos autorais, que unem os autênticos sabores da gastronomia regional e um toque mais contemporâneo.

Com  deck romântico e ambiente acolhedor, o Wine Not? serve vinhos em taça, possibilitando que o visitante deguste várias opções enquanto experimenta os pratos da casa. Foto: Pinterest

À frente do bar e restaurante Wine Not?, o alagoano Isaac Macena é possivelmente o mais antigo chef dos novos talentos. Funcionando a três anos, a casa oferece pratos da cozinha francesa, italiana e contemporânea. “Nosso cardápio é bastante flexível e atualizado para atender a nova gama de turistas que a cidade vem recebendo”, diz Macena.

Um dos pratos que fazem parte do menu do Wine Not? Foto: Divulgação

Formado em padaria e confeitaria pelo Senac, o profissional de 38 anos também fez gastronomia na Hotec, uma das mais tradicionais escolas de gastronomia da capital de São Paulo, no bairro de Santa Cecília. A Wine Not? também é a representante oficial dos vinhos Mistral para a região.

Edu Cardoso é outro chef que desembarcou recentemente em Monte Verde. Ele tem formação em Engenharia de Produção e Gestão Financeira. Fez gastronomia no Cordon Bleu, além de diversos cursos de extensão nas áreas de gastronomia e de alimentos e bebidas, sendo o responsável pela abertura de sete restaurantes em diferentes cidades de São Paulo.

A caprichada e colorida entrado do restaurante O Alquimista. Foto: Divulgação

Cardoso foi ousado e levou para Monte Verde um conceito inovador, que privilegia a arte das cores, texturas, cortes e sabor dos pratos. A mágica do chef inclui a elaboração de pratos autorais e a coragem de implantar um cardápio contemporâneo em O Alquimista, casa que comanda no vilarejo. Integram o menu do seu restaurante polvos, risotos e carnes nobres. Também as sobremesas ganham leveza e um misto de exclusividade. O cardápio sempre tem novidades e nunca para de inovar.

Esses quatro espaços gastronômicos de Monte Verde apresentam uma enorme diversificação de aromas e sabores, características de cada região, oferecendo preços para todos os bolsos. Neles, é possível saborear as entradas e os pratos principais, fechando a refeição com uma de suas deliciosas sobremesas.

A nova geração de chefs vem se destacando e surpreendendo a vilinha com criatividade, conhecimento e paixão pela arte de cozinhar. Os quatro chefs estão criando, a partir da troca de experiências, uma confraria para formar novos mestres-cucas.

Os quatro chefs que estão à frente da criação da confraria. Foto: Divulgação

Como proposta principal, os quatro profissionais do fogão pretendem criar em conjunto encontros, festivais, debates e promover visitas com a imprensa especializada, mostrando que Monte Verde tem um cardápio cada vez mais inovador, que não se limita a trutas e fondues, os tradicionais pratos servidos nos restaurantes do vilarejo.

Os chefs da nova gastronomia da cidade querem ainda realizar ações sociais, efetuar compras coletivas e pretendem oferecer cursos de formação para garçons e atendentes, além de formar novos talentos, como cozinheiros, os commis – os aprendizes e os assistentes do profissional.

O fondue está presente ao cardápio de muitos restaurantes do vilarejo. Foto: Divulgação

Atualmente as quatro casas oferecem cardápios veganos e pratos kids e se preocupam também com receitas elaboradas de maneira natural, sem a utilização de temperos industrializados. O objetivo central é oferecer atendimento acolhedor, preço justo e cozinhar o que verdadeiramente identifica e expressa a evolução criativa de cada chef.

Mudança de hábito – Com a pandemia e a proibição de voos e da entrada de brasileiros nos Estados Unidos e em diferentes países do planeta, incluindo os da Europa, a procura por destinos nacionais aumentou, modificando o tradicional perfil dos turistas que acolhiam. Monte Verde é um desses casos.

Acostumado a receber casais, o vilarejo nos últimos anos passou também a ser procurado por famílias e por pessoas da melhor idade. E, se até o surgimento do Covid-19, acolhia principalmente paulistanos, agora, vêm registrando o aumento gradativo de turistas de Brasília (DF), do Rio de Janeiro (RJ), de Belo Horizonte (MG), do Paraná (PR), de Goiás (GO) e das capitais do Nordeste.

Perfis à parte, os investimentos não trouxeram apenas novos sabores a Monte Verde, mas também resultaram em novas alternativas de lazer. Parques, bares temáticos e outras atrações surgiram no distrito na última década, dando início a um processo de ampliação do público-alvo da vilinha, conhecida pelo seu ar puro, por suas centenárias araucárias e pelas bucólicas paisagens proporcionadas pela Serra da Mantiqueira das Gerais.

Arborismo é uma das  atividades que pode ser praticada na Fazenda Radical. Foto: Divulgação

A Fazenda Radical é um exemplo. Fundada em 2010, oferece atividades como falcoaria, arborismo, tirolesa (adultos e infantil) e passeios de quadriciclo, entre outras atrações. Outros empreendimentos que surgiram nos últimos anos foram o Parque Oschin e o Ice Bar.

A falcoaria e as aves de rapina há mais de quatro mil anos seduzem a humanidade. Foto: Divulgação

O primeiro oferece trilhas, rios, cascatas, pedras e acidentes geográficos, reunindo uma das mais respeitadas reservas de araucárias da região. O parque conta ainda com restaurante, bar e brinquedos para as crianças em ambientes cercados pela natureza, além de lagos e de exótica fauna e flora.

Já o Ice Bar é um espaço tematizado que representa um bar onde tudo é construído com gelo: os cenários, as mesas e os bancos. Lá dentro é possível tomar um drinque e tirar fotos imitando uma visita a um dos postais dos congelantes Polo Ártico e Antártica, os pontos mais gelados do planeta.

Para entrar no bar de gelo é necessário usar trajes especiais, pois o frio é intenso. Foto: Miriam Ribeiro

Patinação no gelo é outra “recente” atração de Monte Verde. O distrito também é palco para passeios a cavalo e de jipe e para trilhas em quatro famosas pedras da região. De diferentes níveis de dificuldade, as trilhas, depois do coronavírus, somente podem ser exploradas com o acompanhamento de guia, contratado nas agências credenciadas.

O frio e as temperaturas abaixo de 0ºC são um charme a mais da vilinha mineira. Foto: TripAdvisor

Novas aventuras, cores, aromas, perfumes e sabores renovaram os ares da vilinha, que tem ainda como um de seus pontos altos o frio causado pela altitude da Mantiqueira das Gerais, região na qual Monte Verde está inserida: está a 1.600 metros de altura em relação ao nível mar.

Explicações de lado, o fato é que, mesmo em esturricantes dias de Verão, os termômetros do pequenino distrito mineiro registram temperaturas negativas, imprimindo ainda mais elegância e glamour a Monte Verde. Basta ir para comprovar. Boa viagem!

 

SERVIÇO

CONFRARIA GASTRONôMICA DOS NOVOS CHEFES DE MONTE VERDE:

Do Divino – Café & Comidinhas: Av. Sol Nascente, 1.845, tel. (35) 99714-3152, instagram @do_divino. Chef Fernanda Martins.

Osteria Piccollo Cucina e Vino: Av. Monte Verde, 693, loja 2, tel. (11) 97803-6181, Instagram piccolo_osteria. Chef Marcelo Cardoso.

Wine Not?: Rua Mercúrio, 162, tel. (35) 99845-1347, Instagram @winenot_mistralverde. Chef Isaac Macena.

O Alquimista Restaurante: Av. Monte Verde, 541, tel. (11) 96913-8583, Instagram @oalquimista_restaurante. Chef Edu Cardoso.

 

Crédito da abertura do texto: O distrito de Monte Verde pertence a cidade de Camanducaia. Foto: Esse mundo é nosso

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