No Norte da Itália, em pleno coração da Emília-Romagna, pulsa Modena, uma província movida por sua fascinante história e rica cultura. Amante da excelente gastronomia, a cidade onde nasceu Luciano Pavarotti e Enzo Ferrari é ainda o berço de possantes motores e de inovadores designs de carros e motos.
Não há neste planeta alguém mais apaixonado por velocidade do que os italianos. Quem conhece um deles entende o que estou dizendo. Aficionados por suas macchinas (máquinas), como os carros e as motos são chamados na Itália, os cidadãos do país fazem de tudo para aperfeiçoá-los. E sentem imenso orgulho por suas conquistas. Modena, cidade vizinha de Bolonha, a capital da Emília-Romagna, é uma prova disso.
Lar de duas das marcas mais luxuosas e cobiçadas no mundo – Ferrari, Lamborghini e Maserati –, Modena é considerada a capital do automobilismo esportivo, sendo conhecida mundialmente como coração da Mottor Valley. Não à toa. Abriga dezenas de fábricas automotivas de grande, médio e pequeno porte, além de museus dedicados aos carros, às motos e às estrelas que escreveram seus nomes nas principais competições internacionais de automobilismo e de motovelocidade.
Guarda ainda um incrível autódromo onde os novos modelos de Fórmula 1 da Ferrari são testados e onde, mediante a pagamento, cidadãos mortais podem pilotar. A poucos quilômetros do circuito de Modena estão os autódromos de Maranello e de Imola, outros endereços de testes de possantes máquinas. Na cidade onde Enzo Ferrari nasceu e tornou a sua empresa internacionalmente famosa, surgiram muitos outros empreendedores.
Só para lembrar alguns deles: também foi nesse solo que nasceu a Maserati. Seus criadores Sergio Scaglietti e Stanguellini foram talentosos protagonistas da história do mundo automotivo: o primeiro fez escola no lançamento e treinamento de técnicos e operários em carroceria. Já Stanguellini criou arrojados carros e motores de competição. O assunto é apaixonante e merece vários posts.
Enquanto isso não acontece, vamos falar sobre motos, mais precisamente sobre a Ducati, uma das principais marcas do motociclismo italiano. Seus modelos modificaram a história do motovelocidade. Embora sejam mais vendidos na América e no Japão, eles conquistaram fãs em todos os cantos do mundo e se tornaram uma fonte de inspiração para outras empresas do setor.
Linha do tempo – A Ducati, nasceu em 1926 na cidade de Borgo Panigale, em Bolonha. Era uma indústria especializada na pesquisa e na produção de radiocomunicação. Foi criada pela família Ducati, os irmãos Bruno, Adriano e Marcello. Eles se associaram a um grupo de investidores bolonheses, fundando a Società Radio Brevetti Ducati (Sociedade Científica da Rádio Brevetti Ducati). Como muitas outras empresas italianas, foi forçada a converter a sua indústria de uso civil para militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Após a ocupação alemã e a destruição da fábrica, a Ducati teve de se reinventar nos anos pós-guerra. Apostou, então, na produção tecnológica de vanguarda. Assim, nos anos seguintes, e com o intuito de escapar à conjuntura negativa que afetava a Itálias, os irmãos Ducati lançaram uma série de produtos inovadores que relançaram a marca para um patamar de excelência mundial.
O Cucciolo – Em 1946, na Feira de Milão, os irmãos Ducati lançaram o Cucciolo, um motor de pequenas dimensões que podia ser instalado em uma bicicleta. Em pouco tempo, a revolucionária invenção tornou-se em uma moto em miniatura, constituindo-se num dos grandes cases de sucesso da marca. Tanto que já, em quatro anos, em 1950, a sua fábrica produziu e rapidamente vendeu mais de 200 mil unidades.
Graças ao êxito do Cucciolo, a Ducati se firmou como uma conceituada marca no setor mecânico, passando ainda a fazer parte do motociclismo mundial. Em 1952, a empresa lançava a Cruiser, um modelo de design sofisticado, motor com potência de 175 cm³, partida elétrica e transmissão automática. Produto arrojado para a época, foi a primeira moto da marca italiana a ser comercializada no mundo todo. A Cruiser significou a entrada da Ducati no segmento Scooter e a sua comercialização foi um sucesso de vendas.
No ano seguinte, e para garantir forte presença no setor motociclístico, a Ducati foi dividida em duas áreas distintas: Ducati Elettronica (produtos eletrônicos) e Ducati Meccanica (fabricante de motos). Foi essa última a responsável pela contratação do engenheiro e inventor Fabio Taglioni (1920/2001). Foi esse genial designer italiano que, ao longo da segunda metade do século, imprimiu o seu criativo estilo às motos da empresa. Taglioni desenvolveu tecnologias que são usadas até hoje, como o sistema Desmodromic, o motor de dois cilindros e o quadro Trellis.
Assim, já na década de 60, a Ducati era famosa pela criação dos seus modelos monocilíndricos que eram potentes máquinas de corrida. Aliás, foi também o engenheiro italiano o inventor da primeira moto de corrida da empresa: a Ducati Gran Sport “Marianna”, vencedora de muitas edições do Milano-Taranto e do Motogiro d’Italia, entre os anos de 1955 e 1957.
Em 1964, o estilo arrojado e não-conformista de Taglioni possibilitou a criação e o desenvolvimento de uma moto de aventura: a Mach 250. Referência na história da Ducati, o modelo era capaz de atingir velocidades superiores a 150 km/h, um desempenho excecional para a época. Com isso, a moto conquistou o coração dos riders mais exigentes.
O lançamento da Supersport 750 da Ducati ocorreu no ano de 1972 e tinha como objetivo principal posicionar a marca no segmento das motos de competição. Foi também uma forma dos responsáveis da Ducati darem uma resposta eficaz e imediata aos modelos que haviam sido lançados pela Honda, sua forte concorrente. O sucesso desse modelo estabeleceu definitivamente a marca italiana como sinônimo de beleza, resistência e velocidade. O modelo Supersport 750 fez a marca italiana regressar às corridas e a vitória obtida na competição de Imola, pelo piloto Paul Smart, deu à marca a projeção internacional necessária para a distinguir das demais.
Nos anos seguintes, a Ducati se manteve firme no lançamento de arrojados modelos. Caso da 851 CC – a Ducati 851 Desmo era uma das paixões de Ayrton Senna (1987), da Monster – a primeira moto sem superestrutura ou proteção aerodinâmica que inspirou muitos outros modelos (1993), da Multistrada (2003), da Streetfighter (2008)… A pioneira Ducati também foi a primeira empresa a vender motos pela internet. Isso aconteceu em 2000 e a moto era uma Ducati MH900e.
Em 2012, a Ducati foi adquirida por uma das mais cobiçadas grifes do mundo automotivo: a Lamborghini Automobili. Atualmente, é um de seus departamentos, o Ducati Racing, que gerencia as competições mundiais de motociclismo. A empresa conquistou 14 títulos mundiais nas corridas de Superbike, um título nas corridas Supersport e três títulos na Superstock. A Ducati também participa do Campeonato de Moto GP, no qual conquistou seu primeiro título mundial em 2007.
Se você é amante da velocidade, saiba que esses e outros capítulos da Ducati podem ser conhecidos no Museu Ducati, em Borgo Panicale, Itália. No momento, ele está fechado, mas deverá reabrir no dia 3 de maio. Em uma das sete salas temáticas de multimídia do museus, você vai poder conferir os modelos históricos e os lançamentos, além de acompanhar toda a trajetória da marca. Para saber mais, acesse www.ducati.com/br/pt/home/museu-e-fabrica-ducati/museu-ducati.
Foto de destaque: Autódromo de Modena. Crédito: Mottor Valley