Por Fabíola Musarra
Você é daqueles que tem curiosidade para experimentar novos sabores e gosta de aprender sobre a gastronomia de outros países? Sim! Então, aqui vai uma dica para um fim de semana diferente: o Beograd, no paulistano bairro de Indianópolis. Todos os sábados e domingos a casa transforma-se em um pedacinho das tradições gastronômicas da Sérvia e da Hungria, países situados no Leste Europeu. Não espere encontrar ali a música e o alegre burburinho típicos dos restaurantes desses dois países. Mesmo porque essa não é a sua proposta: durante a semana, a casa só serve refeições por quilo. Assim, com exceção da cor das paredes do piso superior, pintadas em branco e vermelho em uma homenagem a duas cores comuns às bandeiras da Hungria e Sérvia, a decoração do restaurante é simples e acolhedora.
E já que a ideia é ter um final de semana diferente, a sua viagem gastronômica pode começar bem antes de ele chegar. Para começar, a gastronomia dos dois países ainda é pouco conhecida em terras tupiniquins, resultado de anos de “isolamento” imposto ao bloco socialista da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), do qual Hungria e Sérvia faziam parte. Embora composto por 15 repúblicas soviéticas independentes, esse imenso estado era comandado pelo Partido Comunista, que também centralizava o governo e a economia.
A cultura, os costumes e o modo de vida dos países socialistas somente passaram a ser mais conhecidos a partir da metade da década de 1980. Foi nesse período que o então presidente soviético Mikhail Gorbachev começou a implantar um processo de abertura na URSS. Esse processo, que também ficou também ficou conhecido pelos nomes de glasnost (transparência política) e perestroika (reestruturação econômica), culminou na dissolução da URSS em 1991. A partir daí, cada um dos países soviéticos desenhou a sua própria história, algumas delas escritas com sangue, como aconteceu na Sérvia, país que até então pertencia à ex-Iugoslávia.
Comida com alma – Passados tantos anos e mesmo ainda hoje tendo o incrível auxílio da internet não é muito fácil ter informações sobre alguns desses países. Quer exemplos? Não se surpreenda quando a sua pesquisa no Google apontar basicamente um livro sobre a gastronomia húngara escrito em português: Viagem Gastronômica pela Hungria, de Maria Isabel de Thurzó Sipos Altílio. Independentemente das informações disponíveis, o prato típico mais popular do país é o Gulyás. Também conhecido por Goulash, é uma sopa feita com carne, cebola e batata.
Outras especialidades da gastronomia húngara são o Pörkölt (guisado de carne de porco ou de vaca temperado) e o Gombás Rrizs (arroz com cogumelos fritos). Essas e outras comidas húngaras geralmente são acompanhadas de cerveja ou de vinho produzidos no país. As cervejas mais conhecidas (e consumidas) ali são a Dreher, Aranyászok, Kobanyai, Soproni e Bak. Em relação aos vinhos, destaque para o tinto Egri Bikavér, os brancos de Tokay e da região do Balatón e os espumosos Törley.
Quanto à cozinha sérvia, há uma boa noticia para quem a curiosidade vai além da gula: o vídeo Soulfood Serbia– Hrana sa Dušom (comida com alma), lançado este ano pela Organização Nacional de Turismo da Sérvia, que elegeu a gastronomia do país como um de seus principais atrativos turísticos. Em pouco menos de cinco minutos, o filme (http://www.youtube.com/watch?v=pJcYGSqCk18) mostra a diversidade gastronômica da Sérvia, retratando ainda as comidas típicas e as belezas naturais de suas diferentes regiões. Apesar de o vídeo apresentar os nomes dos lugares e dos produtos escritos em sérvio e de a sua narração ser em inglês, não é preciso falar esses idiomas para entender o seu conteúdo: as imagens mostram tudo! Elas resgatam com muita sensibilidade os alimentos que são a base da comida sérvia e as regiões que as produzem.
Como a da Hungria, a cozinha da Sérvia é forte e calórica – possivelmente os seus pratos assim tenham sido elaborados para que a população consiga enfrentar os rigorosos invernos do Leste Europeu. Carnes assadas ou grelhadas de vaca, porco, cordeiro, peixes de água doce, pato e frango, ao lado de leguminosas e de verduras, são a base da maioria deles. Entre as especialidades preparadas com esses alimentos estão a perna de porco ou costeletas acompanhadas com batatas assadas, o pato servido com salsichas defumadas, o fígado de galinha enrolado em bacon e os cogumelos recheados com queijo. Para acompanhar as refeições, bebidas igualmente fortes: Sljivovica, um destilado feito à base de ameixa preta, e Kruskovaca, licor de fruta de alto teor alcoólico.
Os nomes dos pratos sérvios são estranhos para nós, que não temos afinidade com o idioma: Ajvar (pasta de pimentão e berinjela), Zelje (ensopado com costelinha e verdura), Sarma (repolho recheado com carne moída), Karadjordjeva Snicla (bife de porco à milanesa recoberto por cream cheese), Cevapcici (esses pequenos pedaços de carnes picados em tiras assemelham-se a linguiças) e Gibanica (torta de queijo), só para citar alguns. Entre as sobremesas, destacam-se o Burek (uma torta de semolina com mel), o Palacinke (crepe), a Krempita (massa folhada recheada com creme) e o Strüdel de Maçã.
Em Sampa – Depois de você estar mais familiarizado com a culinária da Hungria e da Sérvia, é hora de saborear um pouco de seus aromas e sabores. O endereço você já tem: o Restaurante Beograd, um dos poucos – senão o único – que serve alguns pratos húngaros e sérvios na cidade que detém o título de capital mundial da gastronomia. Recém-adquirida pelo casal Gilmar Michaelsen e Mabel Borghezan, a casa tem a sua cozinha comandada pelas chefs Marlene Cecília Ramos e Erzebet Rigo, sérvia de origem húngara e ex-proprietária do restaurante.
Juntas, as duas chefs são as responsáveis por elaborar versões “brasileiras” para os pratos típicos da Sérvia e da Hungria. “Normalmente, as refeições desses países são preparadas com banha, algo que as tornariam indigestas para o calor de nosso clima tropical. Por isso, substituímos a banha pelo azeite”, explica Michaelsen. O resultado das adaptações dos pratos sérvio-húngaros proposto pelas duas chefs não poderia ser mais criativo e, sobretudo, saboroso.
Entre as entradas e os pratos frios e quentes que estrelam o Menu Degustação, como é chamado bufê oferecido somente nos fins de semana, estão o pão Langosh, o Ajvar, o pimentão recheado de carne moída e arroz, o cordeiro assado, o Goulash (na versão adaptada é um nhoque feito apenas com ovo e farinha, cozido com músculo e legumes), o Cevapcici e a costela defumada cozida com repolho e o charuto de arroz misturado com a mesma carne, além da Mussaka (espécie de lasanha sem molho vermelho, feita com berinjela ou batata ralada, carne moída, queijo) e da Prebranatz (fava branca cozida com linguiça calabresa).
As tentações não terminam por aí. Na hora da sobremesa, irresistíveis iguarias enchem os olhos (e o estômago) até mesmo daqueles que não são muito adeptos de açúcar e de doces. Os destaques ficam para o Strüdel de Papoula, o Strüdel de Maçã e a imperdível Baklava de Nozes. Refrigerantes e bebidas não fazem parte do Menu Degustação e são cobrados à parte. Mas para quem quiser provar, a carta de bebidas típicas da casa disponibiliza o Sljvovika e a Pálinka (feita de pera ou damasco), entre outras opções.
Instalado em um antigo sobrado residencial e com capacidade para 80 pessoas, o Beograd é um restaurante simples, mas de atendimento e refeições impecáveis. Com aromas, ingredientes e sabores únicos, o seu Menu Degustação é um autêntico representante da gastronomia sérvio-húngara na cidade de São Paulo. Em outras palavras, a casa é o endereço certo de onde tudo é feito com alma e amor!
SERVIÇO
Restaurante Sérvio-Húngaro Beograd
Av. Indianópolis, 3.260, tels. 2373-3256 e 2275-1592, Indianópolis, São Paulo, capital.
Menu Degustação – sábados e domingos, das 11h às 16h.
Aceita todos os cartões de crédito. Não tem estacionamento.