Incenso – A suave magia da fumaça perfumada

Incenso
Você sabe quando surgiu o incenso? De que é feito? Que foi um dos produtos mais cobiçados  da antiguidade. Neste texto você fica conhecendo essas e outras curiosidades  que envolvem essa suave fumaça perfumada. Por Fabíola Musarra
SINÔNIMO DE de espiritualidade, o incenso e os rituais que o envolvem são realidades compreensíveis para alguns, questionáveis para outros e inaceitáveis para os céticos. Mas, mesmo que você se enquadre nessaes últimas situações, vale a pena ler este texto. Ele é sobre incenso.
Sua trajetória, a par do significado e do uso atribuído a ele pelas religiões, é cercada de histórias, lendas e curiosidades. Na pior das hipóteses, você vai descobrir a razão de o incenso exercer fascínio nas pessoas, além de aprender que, em determinadas circunstâncias, sua fumaça é prejudicial à saúde.
Quer um exemplo? Você sabe que o incenso é quase tão velho quanto a humanidade? Ele “nasceu” há aproximadamente seis mil anos. Antigas citações sobre produtos naturais já descreviam duas resinas: o incenso e a mirra. Por sinal, objetos de cobiça humana há milênios – ambos são alguns dos mais antigos produtos comercializados pelo homem.
Na antiguidade eram bem raros e, por isso mesmo, apenas as  classes sociais mais privilegiadas tinham acesso a eles – lembram-se dos presentes ofertados pelos reis magos a Jesus na manjedoura, em Belém, na Jureia? Os reis, vindo do Oriente, abriram seus tesouros e entregaram a Maria as suas ofertas: ouro, mirrra e… incenso.

A resina do incenso é extraída de árvores como a Boswellia (acima), que cresce em zonas áridas do Golfo de Áden, na entrada do Mar Vermelho, atual Iêmen, Sudão e Somália.

Outra curiosidade é que o incenso era produzido a partir de resinas naturais – secreções sólidas ou semi-sólidas extraídas de árvores, sobretudo das famílias Burseracereae, Estiracaceae e Anacardiaceae. O incenso autêntico era obtido de plantas do gênero Boswellia, que cresciam nas montanhas do sul da Arábia e da Abissínia (atual Etiópia). Vale lembrar que existem dois tipos de resinas: as verdadeiras (solúveis em solventes) e as gomo-resinas (parcialmente solúveis em qualquer tipo de solvente).
árvores do gênero Boswelli
Na antiguidade, essas resinas eram extraídas de árvores que cresciam na bacia ocidental do Mediterrâneo, enquanto as gomo-resinas eram colhidas de árvores no sul da Península Arábica e na Somália. Independentemente da resina, o processo de produção do incenso era o mesmo: consistia em fazer incisões sobre o tronco, fazendo brotar dele a resina. Em contato com o ar, ela rapidamente se solidificava e era recolhida.
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Por ser raro (e portanto caro), o comércio de incenso era uma “atividade” sagrada, que evolvia responsabilidades e riscos. Uma antiga lenda conta que cada árvore de olíbano (Boswellia) era guardada por serpentes aladas. As víboras apenas podiam ser afastadas das árvores com a fumaça produzida pela queima de uma resina especial. E coitado daquele homem que fizesse sexo com a esposa ou com a amante e se atrevesse a recolher o incenso durante uma determinada fase lunar: ele se transformaria numa pessoa azeda e carrancuda. Enfim, de mal com a vida.
Na Alexandria, o incenso era tão precioso que os comerciantes, para não serem roubados, obrigavam os escravos encarregados de sua colheita a trabalharem seminus – trajavam apenas uma tanguinha. Mas o alto “tributo” cobrado por ter, produzir ou comercializar o incenso não poupava nenhuma classe social. Nem mesmo os reis. Se eles quisessem ter uma noite de prazer com suas esposas, tinham de pagar seus pesos em incenso.
Incenso3A ORIGEM DO incenso permaneceu desconhecida durante muito tempo. Possivelmente, ele foi inventado quando membros de antigas civilizações jogaram plantas e substâncias aromáticas no fogo e perceberam a fumaça perfumada que dele exalava.
As primeiras evidências arqueológicas, contudo, revelaram que a queima de incensos data dos primeiros reinados do antigo império egípcio, onde foram encontrados queimadores em formato de colheres de cabos longos.
Também antropólogos e historiadores mencionam que os egípcios foram os primeiros povos a produzirem incensos. Muito experientes nessa arte, eles fabricavam os incensos em templos. A própria manufatura dos bastões era um ritual bastante complexo e secreto. Há quem diga que a ligação dos incensos com as cerimônias e as atividades relacionadas à espiritualidade se originou desses fatos e nessa época.
Recentemente, pesquisadores ingleses identificaram, por técnicas específicas, os ácidos a e b-boswélico e os seus derivados em amostras de incenso que datam aproximadamente de 400 a 500 d.C. e que foram coletadas durante escavações na adega de uma casa, na região fronteiriça a Qasr Ibrim, no extremo sul do Egito. Como as espécies de Boswellia não são típicas dessa região (nascem principalmente no norte da Somália e no sul da Península Arábica), a resina encontrada possivelmente foi importada de cidades localizadas no Médio Nilo.
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Por falar em importação, as rotas de comércio utilizadas pelas antigas civilizações foram uma das principais responsáveis pela popularização do produto nos países que integravam o mapa do Velho Mundo. Exemplos: o principal período de comércio do produto foi o greco-romano, quando o incenso era transportado por navios vindos do sul da Arábia e provavelmente em caravanas por terra. Já no fim do império romano, o incenso chegava da África via Mar Vermelho.
Lendas e histórias à parte, o incenso foi utilizado por diferentes povos e com variados fins ao longo dos séculos. A maioria dos povos orientais, por exemplo, queimava incenso em honra de suas divindades. Por sua vez, os primeiros cristãos o empregavam para purificar o ar dos lugares subterrâneos onde se escondiam para celebrar suas cerimônias religiosas. Durante o feudalismo, o senhor feudal era incensado nas cerimônias como ainda hoje o são os eclesiásticos no altar das igrejas. Esse ato era conhecido como o “direito de incenso”.
OS HINDUS são os “pais” dos primeiros incensos aromatizados e, na Índia, até hoje eles são levados bem a sério. Inicialmente, sua produção era feita à base de produtos naturais nativos, como sementes, ervas, raízes, flores e madeiras. Eram queimados em rituais públicos ou nas casas, na adoração de deuses e na cremação dos mortos.
Ainda agora, nos cultos budistas, o incenso é muito usado em cerimônias de iniciação de monges e faz parte dos rituais diários nos mosteiros. Posteriormente, o costume se espalhou por outros países da Ásia, como a China, Mongólia e o Japão. Neste continente, sua propagação está relacionada à difusão do budismo.0
Incenso1Independentemente disso, há quem jure que o verdadeiro motivo de o incenso ter sobrevivido ao longo dos milênios e de ainda hoje fazer tanto sucesso deve-se à sua forte ligação com o elemento ar (simbolizada pela fumaça) e ao seu marcante apelo olfativo (o olfato tem contato direto com o processamento de emoções e com a memória), ingredientes que sempre exerceram fascínio na humanidade.
Mas é exatamente em função disso que se deve redobrar a atenção quanto à escolha do incenso. “Um produto de má qualidade é como um perfume barato”, diz Mohamad Ali Chain, proprietário da Empresa Nova Era, mais conhecida por SAC, nome fantasia da importadora e distribuidora de incensos da Índia no País (www.sacincensos.com).
Diante da quantidade de marcas oferecidas pelo mercado, ele ensina como identificar um bom produto. “O incenso deve ser feito com materiais nobres. Sua composição deve incluir pó de sândalo branco, uma substância produzida na Índia”, diz.
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Ali Chain explica que é o sândalo branco que proporciona a sensação de bem-estar quando o incenso é queimado. Observa que uma pesquisa realizada há uns anos constatou que essa substância tem aroma semelhante ao que a mãe libera após o parto, que acalma o bebê. “O cheiro é imperceptível, mas propicia bem-estar”, assegura.
OUTROS INGREDIENTES fundamentais são a vareta, a cola e a essência, que devem ser de boa qualidade. No caso dos distribuídos pela SAC, as varetas são de bambu tratado, enquanto a goma é a Jigat. Já as essências são criadas a partir de aromas naturais. “O consumidor deve observar os ingredientes do incenso na embalagem, na qual também deve constar o registro da Anvisa, órgão de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde.”
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Todas essas precauções resultam em benefícios para o consumidor. Ali Chain conta que um incenso de qualidade libera uma fumaça branca, quase transparente, que exala um aroma suave e não satura o ambiente. Já os demais têm perfume forte e enjoativo, que fica impregnado no ar. Sua fumaça é escura e não se espalha bem no local. “Esse tipo de incenso expulsa a pessoa do ambiente, pois provoca dor de cabeça”, finaliza o empresário.
O NOVO VILÃO
Embora aparentemente inofensivo, o incenso pode fazer tanto mal para os pulmões e bexiga quanto o cigarro, a poluição atmosférica e o gás carbônico dos escapamentos dos carros. Sua fumaça libera gases tóxicos que podem causar o câncer nesses órgãos. É o que asseguram três diferentes pesquisas sobre o tema. Na primeira, publicada na revista European Respiratory Journal, os cientistas explicam que quando alguém acende uma vela ou defuma a casa, na realidade, está impregnando o ambiente com os hidrocarbonetos aromáticos e partículas poluentes sólidas, substâncias causadoras de câncer de pulmão e de bexiga. “Esse risco aumenta em ambientes fechados e com muita fumaça, como o interior dos templos budistas e católicos”, alerta o texto.
Por sua vez, o estudo dos cientistas da Universidade Nacional Cheng Kung (Taiwan), veiculado na revista New Scientist, mostrou que num templo budista mal ventilado de Taiwan os níveis encontrados da substância cancerígena provenientes da queima de incensos eram 45 vezes superiores aos encontrados em casas de fumantes e até 19 vezes maiores do que o existente no lado de fora do templo, além de ser superior ao das amostras colhidas em um movimentado cruzamento da cidade.
Templo
“A possibilidade de se desenvolver câncer pela inalação da fumaça produzida pela queima de incenso depende do nível de hidrocarbonetos policíclicos liberados por ele e pelo tempo de exposição ao produto”, endossa Brad Timms, da Campanha de Pesquisa do Câncer, na Grã-Bretanha.
Os pesquisadores da Universidade de Maastricht (Holanda) também chegaram a essa conclusão. Eles analisaram a concentração de partículas poluentes sólidas no ar de uma capela e de uma basílica em Maastricht e comprovaram que o ar das duas continha vários tipos de moléculas reativas
Essas moléculas fazem mal ao pulmão, causando ou agravando as reações inflamatórias e as doenças respiratórias, como asma ou bronquite. “Os padres e as pessoas que trabalham dentro de igrejas são os maiores prejudicados, embora os fiéis que ali permaneçam por muitas horas diárias também possam ser afetados”, advertem os cientistas.

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