Catar, muito além de As Mil e Uma Noites

Com o fascínio do conto Aladim e sua lâmpada mágica, o país do Oriente Médio que sediará a Copa do Mundo reúne um mar turquesa, o calor do deserto e a magia de ser um pedacinho de terra que preserva cultura, história e tradições milenares, mas que também possui uma arquitetura futurista e o glamour de um país que é um dos mais ricos do mundo.

 Por Fabíola Musarra

Afirmar que o Catar é um país de contos de fadas não é exagero. Ali, naquele pedacinho do Golfo Pérsico, o país que tem como fronteira a Arábia Saudita guarda histórias e encantos que conquistam qualquer mortal. Tudo ali seduz: do passado de antiga vila de pescadores que sobrevivia às custas da extração de pérolas até os anos 1930 à contemporânea capital do país, Doha. De avenidas largas absolutamente limpas por onde circulam carros luxuosos, a capital é tingida por prédios e torres futuristas e abraçada por uma natureza exótica de beleza indiscutível.

Doha iluminada por seus neons. Foto: Fabíola Musarra

Tudo neste pequeno país do Oriente Médio é superlativo: o mar que concede às suas orlas o turquesa transparente das águas do Golfo Árabe, o calor do clima desértico e os neons que entrelaçam os edifícios de Doha à noite aos detalhes, arabescos e mosaicos da arquitetura árabe dos palácios, das mesquitas e até mesmo de estádios que sediarão os jogos de futebol da Copa do Mundo da Fifa, que acontecerá de novembro a dezembro deste ano – não foi realizada em junho, como tradicionalmente acontece a cada quatro anos, devido ao calor intenso que faz no país neste mês do ano.

O Catar é um dos destinos mais seguros do mundo. País onde a vanguarda e o milenar convivem, o país recebe turistas com a hospitalidade característica da cultura local. Foto: Newswire

A aliança entre o passado milenar e o futuro vanguardista é visível em tudo em Doha, a capital e cidade mais populosa do Catar. Essa união pode ser constatada, sobretudo, na arquitetura de seus palácios, edifícios, shopping centers, museus… Dos oito estádios construídos para a competição mundial, o Al-Thumama é um exemplo de como essa aliança entre o antigo e o contemporâneo é interessante.

Assinado pelo arquiteto catari ou catarense, nome que se dá a quem nasce no país, Ibrahim M. Jaidah, o estádio tem capacidade para 40 mil torcedores. Seu design é inspirado na cultura islâmica, mais especificamente nas tramas de tecido da gahfiya, a touca branca que é usada para prender o ghtrah, o lenço que cobre a cabeça, o pescoço e os ombros dos mulçumanos. Erguido com avançada tecnologia, o estádio parece ter sido tecido em uma renda finíssima.

O Estádio Al-Thumama. Seu vIsual parece ter sido tecido em renda. Foto: Fabíola Musarra

Outro exemplo do perfeito convívio entre a tradição e o moderno é o inovador Stadium 974, também conhecido como Estádio Ras Abu Aboud. Como a maioria dos demais, ele terá capacidade para 40 mil pessoas. Foi projetado por Fenwick Iribarren, Schlaich Bergermann Partner e Hilson Moran e receberá jogos até a fase de quartas-de-final da Copa do Mundo. Seu diferencial? Foi inteiramente construído com contêineres modulares, assentos removíveis e banheiros previamente construídos em uma fábrica, antes da montagem no local.

O Estádio 974, construído com contêineres. Foto: Fabíola Musarra

Como consequência, a sua concepção exigiu o uso de menos materiais e gerou menos resíduos, reduzindo ainda a pegada de carbono do seu processo de construção. Após os jogos, os contêineres e as demais estruturas serão doados para países carentes, onde serão reaproveitados. O número “974”tem um significado: ele é o código de discagem internacional para o Catar e também o número de contêineres usados na edificação do estádio.

Todos os estádios da competição estão concluídos e serão acessíveis por uma das três linhas de metrô que servem Doha, exceto a que conduz ao estádio de Lusail, nas proximidades da costa norte da capital. Situada a 24 km do centro da capital, a cidade de Lusail foi construída no meio do deserto, abrigando praias, prédios, lojas de grife, shopping centers, campos de golfe e o Estádio Nacional de Lusail…

Cidade de Lusail, onde acontecerá a partida inicial e a final da Copa do Mundo. Foto: Fabíola Musarra

Com capacidade para 80 mil torcedores, o maior dos estádios do Mundial será palco de dez disputas, incluindo o jogo de abertura e a partida final da Copa do Mundo. Lusail também acomodará a imprensa, os seguranças e todos aqueles que trabalharão na competição. O acesso ao estádio somente será possível de ônibus e de carro. Mas, não se assuste. Em Doha, tudo é muito perto, tudo é acessível em 15, 20 minutos.

Antes de ir para lá, porém, é bom saber algumas coisas básicas sobre o país. De religião islâmica, o Catar exige roupas comportadas, sem decotes exagerados e com ombros e pernas cobertos. Vestidos curtos (devem estar, no mínimo, na altura do joelho) e blusas de alcinhas, regatas, minissaias e bermudas não devem ser usados lá, exceto nos hotéis. Para frequentar a praia pública de Doha, por exemplo, é preciso estar de short. Nas praias públicas do país, o biquíni não é permitido e ele somente pode ser usado em piscinas e nas praias dos hotéis.

Passado e presente convivem neste país de beleza única. Foto: Traval Class

Também a venda de bebidas alcoólicas é proibida no Catar, exceto nos bares dos hotéis. Quem desobedece a lei, é preso. E esse é um problema a ser resolvido até a realização da Copa do Mundo. O torneio reunirá torcedores de países acostumados a tomar uma cervejinha para acompanhar os jogos. Como o país resolverá isso? Ainda não se sabe. Dizem que possivelmente será permitida a venda de bebidas em barraquinhas que funcionarão ao redor dos estádios. Mas, essa não é uma versão oficial.

A língua falada no país é o árabe, mas o inglês também é praticado por lá – a maioria dos nomes dos monumentos, dos museus, das bibliotecas e das ruas estão escritos em árabe e em inglês. O clima do Catar é desértico, o que significa que é muito quente, sobretudo no Verão, de março a outubro (os meses mais quentes vão de junho a setembro), quando o relógio pode registrar até 50°C e a sensação térmica vai bem além disso.

Na praça onde fica o relógio que marca o tempo exato para o início da Copa do Mundo estão as bandeiras de todos os países que participarão do torneio. Foto: Fabíola Musarra

Porém, muitos pontos turísticos do país podem ser visitados à noite, como é o caso da praça ladeada por bandeiras dos países participantes da Copa do Mundo onde está o relógio que registra até os milésimos de segundo que faltam para a sua realização e dos passeios de barco que estão à beira-mar, alguns deles podem ser feitos em antigos barcos usados pelos mergulhadores de pérolas do país – o preço depende da embarcação e do tempo de duração do tour náutico.

Navios antigos na orla de Doha. O deserto tornou-se verde devido ao uso inteligente da irrigação. A água doce foi obtida por meio da dessalinização da água do mar do Golfo Pérsico. Foto: Visit Qatar

Caso também do Souq Waqif, o mercado fundado há mais de um século onde os beduínos trocavam mercadorias – tecidos, lãs, cabras e ovelhas – por itens de sobrevivência. Em 2003, ele foi praticamente destruído por um incêndio. Em 2006, o governo começou a investir em um programa de restauração a fim de preservar a sua identidade arquitetônica e histórica. Restaurado, reabriu em 2008. Com sua sinuosa “avenida” principal, ruas estreitas e becos onde só circulam pedestres, o antigo mercado é hoje um charme a mais da capital.

Rua central do antigo mercado. Foto: Fabíola Musarra

Localizado no centro de Doha, no distrito de Al Souq, o lugar é um dos principais pontos turísticos e de encontro da cidade. Ali, nos dois lados da rua central, se concentram restaurantes, cafeterias e lojas. Elas vendem desde especiarias e frutas secas, suvenires, lenços de seda, tecidos, vasos e tapetes até joias, vestidos bordados com fio de ouro e animais de estimação. À noite, o Souq Waqif fica todo iluminado e é ainda mais bonito. Também é ideal para quem quer visitá-lo e ao mesmo tempo fugir do forte calor que faz durante o dia.

O antigo mercado é um dos principais pontos turísticos e de encontro da cidade. Foto: Fabíola Musarra

É perfeito ainda para tomar um chá, café ou mesmo jantar. A gastronomia do país é feita de aromas, cores e sabores insuperáveis, uma deliciosa mistura da culinária árabe, com acentuada influência das cozinhas libanesa, iraniana e indiana. Entre as opções mais conhecidas dos brasileiros estão o homus (pasta de grão-de-bico), a kafta (aqui feita com carne de cordeiro), a abobrinha recheada com arroz e carne desfiada (kousa-mahshi)e o babaganuche (pasta feita à base de berinjela e tahine) e o warak enab (carne enrolada em folhas de uvas).

Kousa-mahsh, a abobrinha recheada com arroz e carne desfiada. Foto: Impulsiona

Menos conhecido, mas não menos saboroso é o Machbüs. Apontado como o prato nacional do país, é preparado com arroz, carne e vegetais. Normalmente, é feito com cordeiro ou frango assados lentamente, mas também existem versões com marisco. Outros pratos típicos são o Haruf (arroz com cordeiro assado), Ghuzi (cordeiro assado inteiro servido sobre o arroz de noz) e a Saloona (sopa de carne com legumes, em especial cenoura, batata, tomate e berinjela).

Sallona, sopa típica do país. Foto: Divulgação

Para a sobremesa, o Umm Ali (pudim de pão com nozes e uva passas) e Mehalabiya (flan com pistache, perfumado com água de rosas). Frutos do mar e tâmaras são alimentos comuns no país, assim como as romãs, sempre bem docinhas. É comum encontrá-los na composição de pratos. Para os apreciadores de carne de porco, um conselho: esqueçam. O país é mulçumano e nele e, em função da religião, esse tipo de carne e os seus derivados não são consumidos.

Umm-ali. Foto: Impulsiona

Os xeiques e o governo – O Catar é atualmente um dos países mais ricos do mundo e com uma das menores cargas tributárias, segundo o Relatório Global de Competitividade. Humanos já viviam naquelas terras há pelo menos 7.500 anos e os seus primeiros habitantes recorriam ao mar para a sua sobrevivência. A história do país está ligada ao Império Otomano, que comandou o país por séculos. A partir da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) e da Revolta Árabe (1916 a 1918), o domínio otomano chegou ao fim.

Em 1916, o país se tornou protetorado britânico e somente ficou independente do Reino Unido em 1971, quando se tornou em um Estado soberano regido por uma monarquia absolutista. Lá a monarquia é herdada de pai para filho e a dinastia que reina é a da família Al-Thani – estão no poder desde 1825, portanto, há quase dois séculos. São os membros ou grupos próximos dessa família que exercem os principais cargos do país.

O emir governa como absolutista e detém toda a autoridade executiva, legislativa e judicial. No país não há partidos políticos, eleições parlamentares nem legislatura independente. Ali prevalece a xaria, a principal fonte da legislação do Catar. A xaria é aplicada às leis relativas ao direito de família, à herança e aos atos criminosos, como adultério, roubo e assassinato. Em resumo: o sistema legal do país é uma mistura de lei civil e lei islâmica.

Em 1995, o xeique Hamad bin Khalifa Al-Thani se tornou emir após depor seu pai, Khalifa bin Hamad Al-Thani, em um golpe de estado sem violência, passando a governar o Catar. A destituição do pai aconteceu porque Hamad queria modernizar o país. E foi bem-sucedido em seu plano. De imediato, fez reformas políticas e econômicas, encorajou o sufrágio das mulheres na política e permitiu a construção de igrejas católicas romanas no país, entre outras iniciativas que visavam deixar o país mais progressista.

O emir Hamad Bin Khalifa Al-Thani e xeica Mozah bint Nasser Al Missned. Foto: Qatar Foundation

Em 1991, na Guerra do Golfo Pérsico, o emir apoiou as tropas de colisão, aproximando o Catar dos países do Ocidente. Em 1996, comprou a rede de televisão Al Jazira, cujo conteúdo editorial muitas vezes gerou polêmicas no mundo e, em especial, nos Estados Árabes do Golfo Pérsico. Em 2013, Hamad entregou o poder ao seu filho Tamin bin Hamad Al-Thani, que é quem tem administrado o país. Embora seja bem mais liberal do que outros países mulçumanos, o Catar também é acusado internacionalmente de violar os direitos humanos.

Namoro e casamento – Com leis, costumes e tradições de país islâmico, o Catar possibilita o casamento do homem com várias mulheres. O xeique Hamad bin Khalifa Al-Thani é prova disso. Tem três esposas e 24 filhos, sendo 11 filhos e 13 filhas. Sua primeira esposa é Mariam bin Muhammad Al-Thani, filha de um tio paterno. Com ela, ele tem dois filhos e seis filhas. Sua segunda esposa é a Mozah Bint Nasser Al-Missned, filha de Nasser Bin Abdullah Al-Missned. O casal tem duas filhas e cinco filhos, um deles é Tamin bin Hamad Al-Thani, o governante do país.

Já a terceira esposa é sua prima em primeiro grau, Noora bin Khalid Al-Thani. Com ela, o xeique tem quatro filhos e cinco filhas. Das três esposas de Hamad, a mais querida pela população é a xeica Mozah. Nascida em Al Khor, ela tem lutado pelos direitos das mulheres e está ativamente envolvida na educação e em reformas sociais no Catar. Atualmente, ela preside a Fundação Catar para a Educação, Ciência e Desenvolvimento Comunitário, uma organização privada sem fins lucrativos criada em 1995 por iniciativa do marido.

A xeica Mozah Bint Nasser Al-Missned, querida e muito popular pelo seu interesse no desenvolvimento do país. Foto: Bazaar

Em 2003, a fundação inaugurou a Cidade da Educação, um campus protótipo do futuro, trazendo “filiais” de conceituadas universidades internacionais para o país para fornecer programas de graduação de alto nível, compartilhar pesquisas e estabelecer empreendimentos na comunidade. Mozah está seriamente comprometida com esses projetos, nos quais pretende incluir cada vez mais as mulheres de seu país. Não à toa que ela é tão querida.

Por falar em famílias e relacionamentos, como se namora e se casa nesse país? Para namorar, a moça conta para a mãe sobre o seu interesse por um determinado rapaz. Sua mãe, então, conversa com a mãe dele. Se o rapaz gostar, os jovens começam a namorar e, posteriormente, se casam. E quando a união fracassa? O divórcio é permitido? Como se sabe, os homens podem se casar várias vezes. Porém, caso ele favoreça uma esposa mais do que outra (em dinheiro, sexo, atenção, alimentação, educação dos filhos, viagens e outros benefícios), certamente estará encrencado.

A esposa que se sentiu prejudicada em relação a outra pode registrar os fatos, comprovando o favorecimento na Justiça, que lhe concede o divórcio. Depois do divórcio, ela poderá se casar novamente? Sim, asseguram por lá. Dizem ainda que não faltam interessados em se comprometer com mulheres mais experientes nas tarefas de comandar uma casa e de educar os filhos, bem ao contrário do que acontece no Ocidente, onde a maioria dos homens preferem as mulheres jovens.

A extração de pérolas – O Catar é atualmente um dos países mais ricos do mundo. Seu histórico de riquezas começou a partir dos anos 1940, quando o país começou a explorar petróleo e gás natural. O país é rico em recursos naturais, sendo um dos maiores produtores de gás natural do mundo. Sua economia está baseada na exportação de petróleo, petrolíferos refinados, polímeros de etileno e alumínio. Os principais destinos desses produtos são a Coreia do Sul, o Japão, a Índia, a China e Cingapura.

Um dos novos hotéis de luxo do Catar. Foi erguido para receber turistas na Copa do Mundo deste ano. Foto: Divulgação

Atualmente, o salário mínimo no Catar é de 500 dólares. Detalhe: o empregador tem de pagar para o trabalhador moradia, transporte e plano de saúde. Porém, essas vantagens não significam qualidade de vida – a maioria dos trabalhadores são imigrantes e não têm direitos aos privilégios dos cataris, os 25% da população nas mãos de quem a riqueza é concentrada. Os habitantes nativos não pagam impostos e têm todos os benefícios de graça.

Já os imigrantes não desfrutam dessas vantagens.  A maioria deles trabalha na construção civil. Aliás, Doha, onde se concentra praticamente toda a população do país, é uma cidade em construção. Por onde quer que se ande há sempre guindastes e canteiros de obras. Apesar das construções, não se vê uma rua suja na capital. A limpeza diária é feita de madrugada pelos trabalhadores.

Doha é um canteiro de obras a céu aberto. e está constantemente se reinventando. Foto: Fabíola Musarra

Desigualdades à parte, o país nem sempre viveu dias de prosperidade como os atuais. Até os anos 1930 era uma vila de pescadores que vivia à base da pesca e da extração de pérolas – foi um dos maiores exportadores mundiais, antes do boom do petróleo.  Apesar disso, a vida não era nada fácil. Os homens passavam seis meses no mar e outra metade do ano em terra. A comercialização de pérolas era basicamente o único meio de sustento da família. Para obtê-las, era preciso partir em um navio e mergulhar sem os equipamentos adequados em um oceano desconhecido.

Dá para imaginar como isso era feito? Antes da partida, as mulheres em terra se despediam dos homens, sem, contudo, terem a menor certeza de que voltariam vivos das águas do Golfo Pérsico. A “aventura” para ganhar o sustento da família muitas vezes não tinha volta, pois os homens mergulhavam com um pregador no nariz, uma cesta no pescoço e uma pedra amarrada aos pés para conseguirem afundar até 30 metros de profundidade e coletar as ostras – são necessárias centenas de ostras para encontrar uma pérola.

Roupa de um mergulhador de pérolas exposta no Museu Nacional do Catar. Foto: Fabíola Musarra

Depois, eram puxados rapidamente à superfície, respiravam e novamente repetiam os mergulhos, arriscando a vida. Muitos deles não suportavam. Tinham falta de oxigênio e morriam. A extração de pérolas no Catar durou até 1920, 1930, com a entrada do Japão com o cultivo de pérolas no mercado mundial. Assim, o país voltou a viver dias difíceis, mas essa realidade durou pouco.

Por volta de 1930, quando ainda era um protetorado inglês, o Catar descobriu o petróleo. Os ingleses ajudaram na exploração do combustível fóssil até a Segunda Guerra Mundial, quando deixaram o país. Novamente, o Catar viveu dias de dificuldade. Mas, em 1974, a Qatar Petroleum, empresa estatal que está sediada em Lusail, assumiu a exploração e o controle do petróleo existente no país, acelerando a economia.

A rosa do deserto – Tanto as informações sobre os mergulhadores e a extração de pérolas como a trajetória do descobrimento e da exploração de petróleo no país podem ser conhecidas no Museu Nacional do Catar. Seu acervo, muitas vezes interativo, mostra desde a formação da fauna e da flora do país, a constituição dos povos, os povos nômades, os movimentos migratórios, a formação da sociedade e o estilo de vida até os dias atuais.

A rosa do deserto serviu de inspiração para a criação do visual do Museu Nacional do Catar. Foto: Fabíola Musarra

O visual do lugar lembra o formato de uma rosa do deserto. A rosa do deserto é o nome de um fenômeno natural que acontece no subterrâneo das areias do deserto do Qatar, onde milhares de grãos de areia se cristalizam e se unem, compondo uma formação mineral que se assemelha a uma rosa. Essa formação tão típica do Qatar serviu de inspiração para o design do Museu Nacional do Qatar.

A entrada do lindíssimo Museu Nacional do Catar. Foto: Fabíola Musarra

Seu projeto é assinado pelo arquiteto francês Jean Nouvel. O profissional se inspirou na rosa do deserto para desenhar a estrutura com círculos de diferentes tamanhos e ângulos que se unem para abrigar 11 galerias. Fica à beira-mar, no local onde antes era o Palácio Real do Catar, propriedade que pertencia ao xeique Abdulla bin Jassim Al-Thani e que funcionava como sede do governo e casa da família real. O palácio, em vez de ser demolido, foi integrado ao projeto, comprovando, sim, que o passado pode conviver em total harmonia com o futuro.

O Tapete de Pérolas de Baroda foi bordado com mais de 1,5 milhão de pérolas colhidas por mergulhadores no Golfo Pérsico, além de diamantes, esmeraldas e safiras. Foto: Fabíola Musarra

O museu, além da vida selvagem e da transição do país para a economia baseada em petróleo, também exibe o “Nafas”, filme que registra a perigosa profissão do mergulhador que saia em busca de pérolas. Guarda ainda o Tapete de Pérolas de Baroda, que foi encomendado em 1865 por um xeique para ser doado a Meca, na Arábia Saudita. O xeique faleceu e a peça jamais chegou ao seu destino. O tapete foi bordado com mais de 1,5 milhão de pérolas colhidas por mergulhadores no Golfo Pérsico, além de diamantes, esmeraldas e safiras.

Interior e vista a partir do terraço do restaurante do Museu Nacional do Catar. Foto: Fabíola Musarra

No último andar está o restaurante, com uma vista imperdível do mar. Para chegar até o museu é só caminhar 1,6 km na direção leste ao longo da Corniche, a avenida de palmeiras de 7km que acompanha a orla marítima da capital e onde muitas de suas atrações estão concentradas. Acompanhada pelas azuis águas do Golfo Pérsico, o calçadão liga o centro à faceta moderna de Doha, em West Bay. Chamada de Skyline, esse “bairro” nobre concentra prédios futuristas e é onde fica o centro financeiro da capital.

Símbolo de status – Urbana e high-tech, Doha também guarda tradições curiosas do país. Próximo ao Souq Waqif há um lugar onde ficam dezenas de camelôs. Eles são usados em corridas, um hobby comum dos cataris. Ainda no antigo mercado está o Falcão Souq, uma loja que vende falcões, comida e acessórios para as aves de rapina, incluindo capuzes para vendar seus olhos. Os falcões custam caríssimo e são símbolo de status no país – o exemplar com penas de cor branca é comercializado a um preço astronômico.

Camelos no centro da capital. Eles usados em corridas, um hobby comum dos cataris. Foto: Fabíola Musarra

Muito populares por ser peça fundamental do esporte mais tradicional do país, os falcões são parte essencial no cotidiano dos países do Golfo. Fazem parte da história e da cultura da nação árabe, onde a influência da falcoaria ainda exerce grande fascínio. Tanto que no mercado de Doha funciona um hospital de última geração direcionado à saúde das aves de rapina: o Souq Waqif Falcon Hospital. Criado em 2008, atende mais de 30 mil aves por ano e oferece, além de sofisticados exames, procedimentos médicos e cirurgias, salão de beleza para os falcões.

Os falcões são um hobby caro dos cataris. Podem ser comprados no Souq Waqif ou em outras lojas. Essas aves de rapina são tão estimadas que têm até um hospital de luxo para tratar delas, o Souq Waqif Falcon Hospital, que funciona próximo ao mercado. Foto: Fabíola Musarra

As Cifras milionárias também estão presentes em The Pearl (a pérola, em português), uma das regiões mais desenvolvidas e luxuosas do Catar. Vista do alto, essa gigantesca ilha artificial tem o formato de um colar de pérolas e foi construída na superfície de um dos principais locais onde eram encontradas pérolas no Catar. Quando estiver concluído, o milionário empreendimento imobiliário, reunirá 12 distritos (leia-se minicidades), 11 residenciais e um misto, onde também funcionarão escritórios.

A entrada para a luxuosa ilha artificial Qanat Quartier. Foto: Fabíola Musarra

Do total, apenas cinco distritos hoje estão concluídos – lembre-se que Doha é uma cidade que diariamente está sendo construída e se reinventando. Cada um dos distritos tem estilo arquitetônico diferente. Hoje, aproximadamente 50 mil pessoas, incluindo estrangeiros, moram na ilha, em suas vilas, como também são conhecidos os conjuntos do projeto. As vilas podem ser frequentadas por turistas e abrigam áreas de lazer, edifícios residenciais, shopping centers, lojas de grife, hotéis cinco estrelas, cafés e restaurantes.

Maquete em exposição do The Pearl, que está sendo construída em formato de um colar de pérolas. Foto: Fabíola Musarra

Alguns dos distritos contam com praia privada. Dois deles são bastante concorridos: o Qanat Quartier e o Porto Pérola. O primeiro foi inspirado na italiana cidade de Veneza, com seus edifícios coloridos, pontes, canais e gôndolas. Já o Porto Pérola tem estilo mediterrâneo e uma orla de 2,5 km de extensão, onde estão o porto central e a maior marina do The Pearl, premiada pelo seu design.

Qanat Quartier, a vila inspirada na colorida cidade italiana de Veneza. Foto: Fabíola Musarra

Efervescente e também repleta de curiosidades é a Katara Cultural Village, uma das principais atrações culturais da capital. Seus edifícios e instalações foram propositalmente organizados para refletir o patrimônio cultural e arquitetônico do país, instigando a imaginar como era Doha, de suas origens até como a cidade se tornou no que é hoje. O lugar abriga jardins, duas lindíssimas mesquitas (pena que a entrada nelas nem sempre seja possível), um teatro,instituições culturais,  galerias de arte, restaurantes e beach clubs na Praia de Katara.

A Katara Cultural Village abriga jardins, duas lindíssimas mesquitas, um teatro, galerias de arte, instituições culturais, restaurantes e beach clubs na Praia de Katara. Foto: Fabíola Musarra

Ali também ficam a sede da Orquestra Filarmônica do Qatar (Opera House), o Ministério da Cultura, a Sociedade de Belas Artes do Qatar, o Museu de Selo Postal Árabe, a Academia de Música do Qatar e outras entidades, além de um anfiteatro ao ar livre. Com visual inspirado no Coliseu romano e vista para o Golfo Pérsico, ele conta com um sistema de som de última geração. Conforme o ângulo que se pise no centro do palco, o som se propaga mais naquela direção e com uma qualidade impecável.

O deserto e as comunidades – Não distante de Doha, o deserto é um convite para quem gosta de explorar cenários desconhecidos. Misterioso, o gigante silencioso de areia guarda emoções e histórias para quem nele estiver disposto a entrar. Entre uma e outra de suas paisagens monocromáticas vivem comunidades. Em uma delas, famílias, camelos e tendas coloridas pulsam, revelando como é o estilo de vida e o cotidiano dos povos do deserto, um capítulo imperdível da história do mundo árabe.

Uma das simpáticas comunidades dos povos que vivem no deserto. Foto: Fabíola Musarra

Tanto os cataris que vivem nesta pequena comunidade quanto os que vivem na metrópole são, sem exceção, extremamente educados e respeitosos com quem conhece e não ignora os seus costumes e as suas tradições. E este é, com certeza, um cartão de visitas a ser guardado com carinho no calendário da memória. Recordações à parte, o deserto estende-se diante do olhar e se perde na imensidão do horizonte. Lá do alto, o céu azul e sol intenso são companheiros da viagem.

O fascínio só é interrompido na chegada às dunas. Belezas nunca devem ser comparadas, mas tamanhos podem ser. Conhece os bancos de areia que habitam o Nordeste brasileiro? Eles são insignificantes se comparados às imponentes dunas do Golfo Pérsico, palco onde veículos 4 x 4 ziguezagueiam, sobem a alturas inacreditáveis e voltam ao chão, em uma aventura radical que surpreende até mesmo os mais apaixonados por adrenalina. O sobe-e-desce chega ao fim.

As imponentes e mágicas dunas do Catar. Foto: Trip 101

A viagem segue e, no trajeto, é possível sentir o que é paz e também constatar como o ser humano é pequeno diante da perfeição criada pela natureza. Momento de rezar baixinho, agradecendo em silêncio pelo espetáculo que se descortina a seguir: o mar do Golfo Pérsico com seus infinitos tons de azul. Do outro lado está a Arábia Saudita, o vizinho de fronteira. As águas transparentes e quentinhas do mar são um convite para um mergulho. O Sol dourando tinge a superfície das águas e as areias do deserto, despedindo-se de mais um dia.

O deserto com o mar que faz a divisa com a Arábia Saudita.Foto: Fabíola Musarra

E para quem, como eu, se encantou pela magia do Catar, uma dica: leia, releia ou se recorde dos contos árabes “As Mil e Uma Noites”. Detenha-se na história de Aladim e sua lâmpada mágica. Feche os olhos e se deixe seduzir. Sente-se no tapete voador e se transporte para lá. Ou, voe rumo ao país pela Qatar Airways, a companhia aérea catari premiada pela sexta vez como a Melhor do Ano pela Skytrax. Desembarque e viva toda a fantasia deste sonho.

Boa Viagem e salamaleico!

 

SERVIÇO

Nome: Estado do Catar

Fronteiras: O país do Oriente Médio ocupa a pequena Península do Catar na costa nordeste da Península Arábica. Faz fronteira com a Arábia Saudita ao sul. O Golfo Pérsico envolve o restante do país. Um estreito do Golfo Pérsico separa o Catar de Bahrein, a nação insular vizinha.

Capital: Doha. Situada na costa do Golfo Pérsico, no leste do país, é a cidade que mais cresce no Catar, concentrando mais de 50% da população dentro de seus limites e de seus arredores. É também o centro econômico do país.

Língua oficial: Árabe. Inglês é a segunda língua.

Fuso horário: 6 horas a mais do que o horário de Brasília.

Área: 11.610 km2. O país tem 200 km de extensão e 100 km de largura. Sua área de quase 12 mil km2 corresponde a menos do que a metade do tamanho de Sergipe, o menor Estado brasileiro.

Clima: O Catar não possui as quatro estações climáticas, apenas Verão e Inverno. O país tem clima desértico, o que significa que é muito quente, sobretudo no Verão, de março a outubro (os meses mais quentes vão de junho a setembro), quando o relógio pode registrar até 50°C e a sensação térmica pode ir bem além disso. Contudo, do fim de novembro a fevereiro, as temperaturas são mais baixas, caindo para algo entre 20°C e30°C.

População: 2,881 milhões (2020, segundo o Banco Mundial). Estima-se que apenas 25% da população seja de cataris. Os demais 75% de habitantes são estrangeiros, vindos em sua maioria de Índia e de outros países asiáticos.

Governo: O Catar é um emirado absolutista e hereditário desde meados do século XIX, onde o poder desde 1825 (portanto, há quase 200 anos) é exercido pela família Al Thani. São os membros e os grupos próximos dessa família que ocupam principais cargos do país. Em 1995, o xeique Hamad bin Khalifa al Thani tornou-se emir após depor seu pai, Khalifa bin Hamad al Thani, em um golpe de estado sem violência. Em 2013, Hamad entregou o poder ao seu filho Tamim bin Hamad al Thani, que é quem está no comando do Catar até hoje. No país não há partidos políticos, eleições parlamentares e nem legislatura independente. É um país Islâmico cujas leis e costumes seguem a tradição desta religião.

Religião: Islamismo (predominante). Demais religiões: cristianismo, hinduísmo e budismo.

Moeda: Rial catarense – 1 QAR equivale a R$ 1,34.

Economia: Antes da descoberta do petróleo e do gás natural em meados de 1930, a economia do país era baseada principalmente na extração de pérolas e na pesca.

Onde ficar:

Grand Hyatt Doha Hotel & Villas: Situado à beira-mar, esse hotel da Grand Hyatt está a três minutos a pé da praia e oferece vista panorâmica do Golfo Pérsico. Localizada no litoral do novo bairro de West Bay Lagoon, a propriedade apresenta arquitetura árabe e é decorado com móveis de design contemporâneo. Possui 91 vilas de luxo e seus 249 quartos e suítes contam com varanda com vista do Golfo Pérsico ou do centro da cidade – algumas acomodações oferecem cozinha e área de estar.

Dispõe de piscinas cobertas e ao ar livre e uma área de praia privativa de 400 metros, além de restaurantes, bares, e SPA com academia (incluindo uma área privativa feminina para exercícios), wi-fi gratuito, estacionamento e um caixa eletrônico e serviço de câmbio no local. O business center do hotel oferece serviços de secretaria com wi-fi e internet de alta velocidade.

O shopping Lagoona Mall fica à frente do empreendimento, enquanto a ilha artificial The Pearl e o Campo de Golfe de Doha estão a 4,6 km do hotel. O Aeroporto Internacional de Hamad fica a 25,8 km de distância. Os serviços de limusine e de transfer individual do aeroporto estão disponíveis mediante pedido. Fica na West Bay Lagoon Street, Doha, Catar, tel. (974) 4448 1234.

Onde comer: Jiwan Restaurante do Museu Nacional do Catar. O endereço é Museum Park Street, 2.777, tel. (974) 4452 5725, Doha, Catar.

Quem leva: A Qatar Airways é a única que opera voos diretos do Brasil em direção a Doha, partindo do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Também a Turkish Airlines, a British Airways e a Latam fazem a rota em voos com uma e duas paradas. Os voos desembarcam no Aeroporto Internacional de Doha, que fica a quase 26 km do centro da cidade.

 

– A jornalista viajou ao Catar a convite da Hello Connections.

 

Crédito do texto de abertura: Relógio com a contagem do tempo que falta para a realização da Copa do Mundo, Catar. Foto: Alex Amado Cronkite New

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