Símbolo da cidade do Sul da Itália, a pizza tem uma trajetória bem interessante. Sua primeira versão surgiu há mais de seis mil anos. E, ao contrário do que muitos pensam, não foi inventada pelos italianos. Mas, isso não faz a menor diferença. O que importa mesmo é saborear sua massa crocante coberta de molho e queijo, um verdadeiro êxtase para todos os sentidos.
Milhares de pizzas são consumidas diariamente no mundo todo. Mas, para quem visita o Belpaese, como a Itália é poeticamente chamada graças a sua história, cultura, clima e inspiradoras paisagens, ir a uma pizzaria é obrigatório. Deixar o país onde a Margherita nasceu sem experimentar ao menos uma fatia é como cometer um pecado do qual você vai se arrepender para sempre.
Então, se estiver na Itália, sobretudo na região Sul, não perca tempo e vá provar uma pizza. Enquanto aproveita a refeição, contemple alguns dos hipnotizantes postais do país, como a badalada La Piazzetta (nos mapas Piazza Umberto I) na azul Ilha de Capri. Ou, o intempestivo Vulcão Vesúvio em Nápoles, cidade onde fazer pizza é uma arte transmitida de pai para filho. Tanto é que desde 2017 “a arte tradicional da pizzaria napolitana” integra o Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade da Unesco.
A pizza é um dos pratos típicos da gastronomia italiana. Embora sua origem seja incerta, ela não nasceu na Itália. Sua história remonta há pelo menos seis mil anos, quando já era consumida pelos egípcios e hebreus. Não tinha o atual formato. Era só uma massa fina feita com farinha e água, parecida ao pão sírio. Também os gregos tinham uma versão semelhante: preparavam suas massas com farinha de trigo, arroz ou grão-de-bico, assando-as depois em tijolos quentes.
No século 3 a.C., os fenícios já cobriam seus “pães” com carne e cebola. Preparo que foi preservado pelos muçulmanos na Idade Média. Durante as Cruzadas, com o intercâmbio de hábitos e costumes culturais entre diferentes civilizações, a “elaborada massa” desembarcou no porto de Nápoles, no Sul da Itália, ainda antes da unificação do país. Logo que aportou naquele solo, era somente coberta com ervas da região e azeite de oliva.
Antes de chegar ao formato definitivo, era produzida como o calzone e o sanduíche – com a massa dobrada ao meio. Em 1500, em Nápoles já existia um pão achatado chamado de pizza (o termo deriva de “pitta”, que é um tipo de pão). Já considerada à época como a terra da pizza, em 1520, a cidade passa a incorporar ao conceito da expressão “picea” (a antecessora da pizza) em seu preparo, começando a fazer a massa em formato de disco.
Inicialmente, a pizza havia sido criada para saciar a fome dos plebeus e camponeses que moravam no Sul da Itália. Com a invenção dos napolitanos, os vendedores ambulantes adotaram a criativa receita para, com o uso de alimentos baratos, nutrir os mais desfavorecidos – geralmente a massa vinha acompanhada de peixes fritos, queijo e toucinho. Somente alguns séculos depois foi que a pizza começou a integrar as mesas dos nobres.
A mais antiga do planeta
Bastante difundida em meados do século XIX, a pizza ficou ainda mais popular em 1889 graças à habilidade do primeiro pizzaiolo da história, dom Raffaele Espósito, padeiro de Nápoles a serviço do rei Umberto I e da rainha Margherita. Para homenagear a soberana, o chefe criou uma versão com muçarela, tomate e basílico (manjericão fresco) representando as cores da bandeira italiana: branco, vermelho e verde. A rainha gostou tanto que dom Raffaele batizou a sua invenção de Pizza Margherita.
A nova receita, agora redonda e com cobertura, ficou famosa e ganhou o mundo, propiciando a abertura da primeira pizzaria do planeta: a Antica Pizzeria Port’Alba, ainda hoje em funcionamento. Fundada em 1738, a casa nasceu em Nápoles para dar suporte aos vendedores ambulantes de pizza. Pouco depois, as pessoas começaram a frequentar a Port’Alba à procura da massa crocante coberta de tomate e queijo.
Logo o lugar se tornou um ponto de encontro para os amantes de pizza: artistas, intelectuais, estudantes e mortais, ricos ou não. Em 1830, a pizzaria começou a atender pedidos e a usar os seus garçons para entregar pizzas em pequenas latas nas ruas de Nápoles. Criou ainda, um sistema de pagamento (o pizza a otto) que permitia que o frequentador pagasse até oito dias após comer o prato.
No Brasil, a pizza desembarcou com os imigrantes italianos. Aportou mais especificamente na cidade de São Paulo, no bairro do Brás, onde viviam muitos deles. Até 1950, era mais consumida nos círculos italianos. Depois, invadiu o País, passando a fazer parte da cultura nacional. É tão apreciada que em 1985 ganhou uma data no calendário tupiniquim: o Dia da Pizza, comemorado todo ano em 10 de julho.
Preparar esse que é um dos mais expressivos símbolos “Made in Italy” no Exterior não é tarefa impossível. Ao contrário, sua receita é simples e inclui poucos ingredientes: farinha de trigo mole, levedura de cerveja fresca, água e sal. Uma vez que a massa fique pronta, deve-se deixá-la crescer: quanto mais tempo fermentar, mais leve será.
A massa é então cuidadosamente achatada. O ideal é dispensar o rolo, abrindo-a com as mãos para garantir um resultado melhor quanto à maciez e à consistência final. Depois, é só escolher os ingredientes da cobertura e assar a pizza em forno a lenha – o forno deve ser pré-aquecido.
Atualmente, existem dezenas de variações de pizza, desde as redondas e quadradas até as vendidas em fatias. Também inúmeras são as coberturas. Salgadas e doces. Sem dúvida, a mais conhecida é a Margherita, mas existem muitas outras versões, como a tradicional de muçarela, a Marinara (tomate, alho, azeite e orégano) e a Capricciosa representando as quatro estações do ano, com cogumelos, alcachofras, azeitonas e ovos e presunto cozidos.
Os menus italianos incluem ainda a pizza Quatro Queijos (muçarela, fontina, gorgonzola e provola), a Boscaiola (com cogumelos e salsicha) e a pizza branca, com batatas e alecrim. Para quem curte condimentos mais picantes, a dica é a versão que leva cebola e pimentão, e a Diavola, com o apimentado salame da Calábria. Independentemente da cobertura, o símbolo gastronômico de Nápoles é um dos pratos mais saborosos, conhecidos e amados do mundo. É experimentar e repetir!
Foto do destaque: O Golfo de Nápoles. Ao fundo, o Vesúvio, vulcão que destruiu Pompéia e Herculano em 79 d.C. Crédito: TripAdvisor