Ano Novo, entrar com o pé direito

Antigas civilizações já cumpriam rituais na passagem do Ano Novo, expressando o seu desejo de renovação por meio de ritos. O Brasil é herdeiro dessas tradições

Por Fabíola Musarra

Dia 31 de dezembro. O calendário marca o último dia do ano. Em todo o Brasil, o clima de festa leva multidões para as ruas. Com o coração repleto de esperança, elas aguardam o nascer do novo ano. As comemorações acontecem em todas as regiões do País, mas cada uma delas tem seu estilo próprio de festejar a data. Enquanto no Nordeste as festas são embaladas pelo axé, forró, maracatu, frevo, samba e pagode; no Sul, elas se destacam pela caprichada decoração e iluminação de Natal que enfeitam as cidades até o Dia dos Reis Magos, em 6 de janeiro.

Mas tanto no Norte ou no Sul quanto no Leste ou no Oeste, o Ano Novo é sinônimo de renovação. É hora de fazer planos e se cercar de simpatias para garantir que os próximos 12 meses tragam paz, saúde, prosperidade e amor. Alguns comem lentilhas, uvas e romãs. Outros se vestem de branco, sobem em banquinhos e se apoiam no pé direito à meia-noite. Afinal, vale tudo para assegurar um ano melhor. Toda vez que chega o dia 31 de dezembro, esses rituais se repetem, mas a maioria das pessoas desconhece a sua origem.

Ritos e superstições

Antigas civilizações já acreditavam em várias dessas superstições e expressavam o seu desejo de renovação por meio de ritos. No último dia do ano, jogavam fora roupas e objetos crendo que com isso estavam eliminando tudo que era velho de suas vidas. Ainda no primeiro dia do ano, escalavam uma montanha alta para ver uma paisagem diferente ou banhavam-se, em um rio ou no mar, para acolher o novo tempo que havia chegado.

Dos primórdios da humanidade aos dias atuais, esses e outros rituais foram sendo adotados pelos povos. Com as imigrações para outros países, essas tradições seguiram junto com eles, desembarcando na nova terra, onde num processo de aculturação, ganharam vida própria e características peculiares em cada um dos cantos do mundo. O Brasil não foi uma exceção: ao longo de toda a sua história, incorporou muitos desses ritos à sua cultura.

A roupa branca do Réveillon, por exemplo, é uma influência das tribos africanas. Para os negros que vieram ser escravos no Brasil durante o período da Colônia e do Império, a cor branca tem o significado de paz e purificação. Também pular as sete ondas do mar é uma tradição africana ligada à umbanda e ao candomblé. O sete é um número considerado sagrado por essas religiões. Assim, pular sete ondas é invocar os poderes de Iemanjá. Com o ritual, a rainha do mar estaria limpando a aura e o corpo de seus filhos, além de renovar as suas energias, dando-lhes força para vencer os obstáculos do ano vindouro.

Do traje branco a outros curiosos rituais, como comer determinadas alimentos, evitar outros por acreditar que eles fazem a vida andar para trás (por crer nisso, muita gente não come nada que cisque no dia 31), os ritos e superstições já fazem parte da passagem de ano dos brasileiros. Quem nunca comeu lentilha nessa data? Pois, uma colher de sopa é o suficiente para assegurar um ano inteiro de muita fartura na mesa. A origem desta superstição é italiana e foi trazida para o Brasil pelos imigrantes.

Comer romãs e uvas também é outra das tradições que nasceram na Europa. Os portugueses, por exemplo, comem bagos de uva na quantidade equivalente ao seu número de sorte, tudo para garantir a prosperidade e a fartura. Já as nozes, a avelã, a castanha e a tâmara embarcaram em terras tupiniquins pelas mãos dos imigrantes de origem árabe e são recomendadas para assegurar a fartura.

Entrar o Ano Novo com o pé direito tem sua origem na época do Império Romano. A expressão surgiu como consequência de uma instrução dos sacerdotes para os convidados que fossem entrar em um salão, a fim de evitar má sorte. Antes dos romanos, outros povos, como os egípcios, os celtas e os gregos, já viam o lado direito do corpo humano como positivo e associado a bons augúrios, em oposição ao esquerdo (já no Extremo Oriente, o lado esquerdo é o considerado favorável).

Origens à parte, o fato é que num país colonizado por tantos povos de religiões, costumes e culturas diferentes jamais deixaria de incorporar esses rituais e superstições ao seu dia a dia. E, na virada do ano, eles pipocam em todas as casas, praias, metrópoles e vilarejos rurais, ganhando características bem verde-amarelas em todo esse imenso território chamado Brasil.

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