No sudeste do Piauí encontra-se uma das zonas arqueológicas mais importantes do mundo quando o assunto é o paleolítico. É o Parque Nacional da Serra da Capivara, que contém milhares de pinturas rupestres produzidas pelo homem primitivo. Sem falar nas paisagens deslumbrantes do lugar.
Por Fabíola Musarra
Viagem de puro encantamento, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, é um apaixonante passaporte aos costumes e às crenças dos primeiros habitantes das Américas. Criado em 1979, o parque possui mais de 700 sítios arqueológicos com pinturas rupestres de até 12 mil anos, dos quais 170 são abertos à visitação pública.
Viagem de puro encantamento, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, é um apaixonante passaporte aos costumes e às crenças dos primeiros habitantes das Américas. Criado em 1979, o parque possui mais de 700 sítios arqueológicos com pinturas rupestres de até 12 mil anos, dos quais 170 são abertos à visitação pública.
Na foto acima, a Pedra Furada do Gongo pelas lentes do fotógrafo André Pessoa. Logo abaixo, uma das milhares de pinturas rupestres da região.
Esculpidas em gigantescos paredões rochosos, as pinturas retratam fatos da vida pré-histórica, revelando como viveram os primeiros homens no continente americano. São cenas de lutas, caças, animais, sexo, partos, crianças e muitas outras.
Uma das passarelas para a visitação turística às pinturas rupestres do parque.
Percorrer esse mítico solo é como estar em um museu a céu aberto, desvendando gradativamente um pouco mais sobre a nossa própria história. Significa também conhecer a única unidade de conservação do País destinada à preservação da caatinga, palavra indígena que significa floresta branca.
Por toda a sua importância, o parque de 214 quilômetros de perímetro foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. A porta de acesso a essa valiosa e ainda pouco conhecida joia brasileira é São Raimundo Nonato, no Piauí. Infelizmente, ainda não é muito fácil chegar até lá – o aeroporto local está sendo construído e pode começar a operar ainda neste ano.
Enquanto isso não acontece, a saída é embarcar num voo rumo a Teresina. São Raimundo Nonato fica a 530 quilômetros da capital do Piauí, de onde é possível pegar um ônibus, alugar um carro ou contratar um pacote para a Serra da Capivara.
Niéde Guidon, arqueóloga-chefe do Parque da Serra da Capivara.
Outra opção é voar para Petrolina, em Pernambuco, e de lá colocar os pés na estrada. Aproximadamente 300 quilômetros separam as duas cidades. O maior obstáculo neste trajeto aparentemente simples é a rodovia, em alguns trechos totalmente abandonada e inexistente. Em outros, invadida por bois, bodes, cabras… É preciso dirigir com extremo cuidado!
Mesmo assim, a aventura compensa. Ela conduz a uma experiência única e extremamente privilegiada. Afinal, não é todo dia que se a chance de estar diante daqueles monumentais paredões repletos de desenhos pré-históricos, testemunhando a imensidão de “templos” erguidos pelo deus tempo ao longo de milhares de anos.
Serpente sobre um cactus. Foto de André Pessoa.
Os caçadores-coletores – Principal cartão-postal de São Raimundo Nonato, o parque – apesar disso – não é a sua única atração. A pequena cidade de pouco mais de 35 mil habitantes abriga a Fundação Museu do Homem Americano (Fundham). Inaugurado em 1986, é presidido pela arqueóloga Niéde Guidon.
No interior do moderno espaço encontram-se milhares de valiosos achados arqueológicos e paleontológicos da pré-história americana. São esqueletos de pessoas, fósseis de animais da megafauna e de plantas, artefatos de pedra lascada e utensílios domésticos, só para citar algumas das descobertas feitas nas últimas quatro décadas por cientistas que “exploram“ a região.
Diversas pinturas rupestres do parque retratam cenas de caça e de animais.
Graças ao trabalho dos pesquisadores brasileiros e do Exterior, hoje, sabe-se, por exemplo, que os antigos povos que habitaram aquelas terras eram caçadores-coletores. Sua sobrevivência era assegurada pela caça e pela coleta de produtos animais e vegetais, como mel, ovos, frutos, raízes e tubérculos.
Mas ainda há muito mais a se desvendar. Até agora esse fascinante tesouro nacional não foi totalmente descoberto. A cada ano, novas pesquisas, que desde 1982 são ininterruptas, possibilitam a descoberta de novos sítios e de novas espécies de animais, de plantas e de monumentos geológicos.
Capa do livro A Natureza do Piauí, do fotógrafo André Pessoa.
Retratos do Piauí – Quem ainda não conhece a Serra da Capivara pode ter uma ideia de sua preciosidade ao ler o livro A Natureza do Piauí, com texto do premiado jornalista Sérgio Adeodato e fotografias de André Pessoa, um dos melhores fotógrafos de natureza do País.
A publicação traz um novo olhar para um Piauí, expondo, por meio das imagens fotográficas, o acervo natural e cultural de um Estado que se diferencia pelo encontro de variadas paisagens, típicas dos biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, além de sua zona costeira, de seus ambientes marinhos e de sua diversidade biológica única, com espécies da flora e da fauna ainda desconhecidas.
Loja de artesanato na pequenina cidade de São Raimundo Nonato.
Entre os destaques, está o Parque Nacional Serra da Capivara, uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo. Mantido e estruturado para visitação a partir do trabalho de conservação e pesquisas da arqueóloga Niéde Guidon, os sítios arqueológicos se juntam à beleza da Caatinga ali protegida.
O parque é um dos maiores acervos de pinturas rupestres do mundo.
A edição também discorre sobre o Cerrado, revelando que o desafio está na conservação de suas águas, especialmente das fontes que nutrem o Rio Parnaíba, um dos principais do Nordeste. As imagens “falam” alto no esforço por uma maior conscientização para manter o manancial livre da desertificação, conservando a vida silvestre e a beleza cênica do seu encontro com o oceano.
Outro destaque do livro é o Delta do Parnaíba, único em mar aberto das Américas e um refúgio de manguezais, dunas e praias. Há, ainda, uma homenagem aos mateiros, personagens que dominam o conhecimento sobre a natureza e são indispensáveis às pesquisas científicas e aos esforços de conservação.
A obra “A Natureza do Piauí” pode ser adquirida no site www.entrelivroslivraria.com.br/a-natureza-do-piaui e pelo e-mail melbiologa@gmail.com. O exemplar custa R$ 130.