Seguro, rápido e indolor, novo equipamento da Siemens é capaz de diagnosticar com mais precisão alguns tipos de câncer e as doenças hepáticas, além de ter um custo/benefício bem mais atrativo do que os exames convencionais.
Por Fabíola Musarra
Pacientes e médicos já têm um novo aliado para detectar com mais precisão os cânceres de mama, tireoide e próstata e as doenças hepáticas: a elastografia com toque virtual (VTE), um método de exame que usa a emissão de ondas de ultrassom e imagens para fazer os diagnósticos. Funciona assim: uma sonda é colocada sobre a pele do local a ser examinado e emite um impulso acústico que se irradia para os tecidos. A vibração se propaga, possibilitando a observação das propriedades do tecido. As imagens denunciam se ele apresenta ou não alterações e qual é o seu grau de periculosidade, detectando até pequenos tumores.
Importado da Alemanha, o Acuson-Siemens 2000, nome do equipamento que faz a VTE, evita falhas que podem ocorrer em outros métodos de diagnóstico por imagem – às vezes não detectam um câncer existente ou diagnosticam um câncer que não existe. Essa não é a sua única vantagem em relação aos exames convencionais. Nas doenças hepáticas, por exemplo, a moderna tecnologia substitui de modo seguro e menos invasivo a biópsia das células do fígado, feita para avaliar se o órgão tem cicatrizes ou fibroses decorrentes do avanço das hepatites de qualquer tipo. Estimativas oficiais apontam que três milhões de brasileiros estão infectados pela hepatite C. Extraoficialmente, sabe-se que esse número é bem maior.
A biópsia é hoje o exame adotado pelo sistema público de saúde e pela maioria da rede privada. É feita para quantificar o grau de fibrose hepática. Requer a internação, o uso de anestesia local e a introdução de agulha para obtenção do fragmento de tecido hepático, oferecendo o risco de complicações hemorrágicas ao paciente. O fragmento colhido também pode não ser o ideal para análise e ser mal interpretado pelo patologista, resultando num diagnóstico incorreto. O procedimento deve ser repetido no mínimo a cada três anos para acompanhar a evolução da doença e checar se será ou não preciso administrar antiviral, uma medicação cara e de efeito colateral. Já com a VTE não há a necessidade sequer de jejum.
“O exame é indolor e rápido: demora meia hora”, observa a médica Lucy Kerr, pioneira na utilização da ultrassonografia como método de diagnóstico no Brasil e uma das maiores especialistas da área. O equipamento capta as imagens do fígado por ultrassom e transmite uma onda de baixa frequência. A vibração se propaga e mede a elasticidade do tecido hepático. Quanto mais endurecido, mais veloz é a propagação da onda. Em outras palavras, quanto mais rígido e menos elástico o tecido, mais fibrose. O aparelho também pode ser usado nos casos de cirrose por excesso de álcool e em pacientes que fizeram transplante hepático.
Mama – O câncer de mama é hoje o segundo tipo mais incidente no país (só perde para o de pele) e o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos novos casos a cada ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). As estatísticas também revelam que as taxas de mortalidade causadas pela doença continuam elevadas: em 2008, foram 12.098 mortes, sendo 11.969 mulheres e 129 homens. A previsão do Inca para 2012 foram de 52.680 novos casos.
Embora raro antes dos 35 anos, o câncer de mama apresenta a partir dessa idade uma incidência que cresce de forma rápida e progressiva. Sabe-se que se diagnosticado e tratado oportunamente, a sua possibilidade de cura é bem maior. “O câncer de mama é muito mais grave do que o de pele, tornando-se imprescindível que existam métodos eficazes no seu diagnóstico precoce”, avalia Lucy.
O autoexame feito pela mulher é importante, mas isolado não é eficiente para a identificação precoce do tumor. Por sua vez, os atuais métodos de imagem usados para o seu diagnóstico – a mamografia, a ressonância magnética e a ultrassonografia – apresentam limitações. “A presença de microcalcificações anormais sugere a presença de câncer, mas só 50% dos cânceres têm calcificações, a outra metade não. Estes últimos podem não ser vistos e dependem de sinais mais sutis para serem diagnosticados”, afirma a médica.
Na maioria das vezes, a identificação de microcalcificações anormais depende de a mama ser gordurosa, o que acontece com o avançar da idade. É por isso que a mama só se torna mais adequada para a mamografia após a menopausa. Independentemente da idade, metade das mulheres têm mamas densas, o que significa que sete em cada dez mulheres poderão ter um tumor não detectado pela mamografia, e que cerca de 10% dos cânceres palpáveis não serão identificados nessas mulheres. “Como expõe as mamas à radiação, a mamografia também pode causar o câncer”, prossegue.
Quanto à ressonância magnética, o exame detecta se há anormalidade e verifica a sua extensão. Lucy diz ser este um método eficiente quando o câncer já está diagnosticado, além de ser útil para definir o tratamento adequado, mas confunde o nódulo benigno com o maligno da mama em até 33% dos casos, causando biópsias inúteis. Já a ultrassonografia detecta quase todos os cânceres acima de 5mm, mas, em aproximadamente 23% dos casos, eles não são identificados pelo exame, mesmo por examinador experiente.
Há ainda um pequeno percentual de cânceres que não podem ser vistos, porque o seu aspecto é muito parecido ao tecido ao redor da mama e não existe contraste capaz de identificá-los. Segundo a médica, metade dos cânceres menores do que 5mm não são captados pela ultrassonagrafia, pois os métodos convencionais de imagem baseiam-se em contraste do normal e anormal e no tipo de composição do nódulo, mas não estimam a sua dureza. Com a VTE isso não acontece.
Todo o sistema do Acuson-Siemens 2000 está ligado a um computador: enquanto a ultrassonografia mapeia a anatomia mama e localiza a lesão a ser analisada, o equipamento emite uma onda compreensiva, exibindo os dados da dureza do tecido em uma escala de cores. O examinador compara a elasticidade do tecido normal (benignos e moles) e anormal (malignos e duros) e define o diagnóstico baseado em vários critérios, como o formato, o tamanho, o contraste e a escala de dureza.
“A elastografia é a palpação feita pelo aparelho. É mais precisa e quantificável, pois alcança nódulos localizados em regiões profundas ou recobertos por músculos”, resume Lucy. Ela explica que há muitos casos de tireoide em que a palpação pelo médico é impossível, sobretudo quando o paciente tem pescoço curto e grosso ou muito musculoso. Há ainda pacientes que têm nódulos no mediastino, uma região no centro do tórax e recoberta pela caixa torácica que não é alcançável pelos dedos do médico.
Custo/benefício – Além da questão do conforto físico do paciente, o apelo financeiro da VTE é significativo: o custo do exame é menor que o valor que as implicações com a biópsia possam ter – internações, tratamentos dolorosos e medicamentos caros. “Não é necessário internar o paciente, o que barateia muito os custos do procedimento”, diz Lucy. Apesar de seus atrativos, o exame ainda não é feito no SUS nem autorizado pela maioria dos convênios. Por ser uma tecnologia recente, só algumas clínicas do país oferecem o exame, cujos preços variam conforme o serviço prestado. Na paulistana Sonimage Diagnóstico Médico por Ultrassom, clínica conduzida por Lucy, a VTE custa de R$ 500 a R$ 700 por órgão ou região.
As imagens das ondas de cisalhamento foram recentemente transportadas da área da pesquisa para a prática clínica. Sua comercialização começou em 2010 e a tecnologia tem conduzido a novas aplicações clínicas, muitas ainda em desenvolvimento. “Quase a metade dos transplantes de fígado está relacionada à hepatite e acredito que em breve o exame substituirá a biópsia, não somente no diagnóstico, mas no acompanhamento dessa e de muitas outras doenças”, conclui Lucy, que também preside o Instituto Kerr (Ikerr), uma organização não governamental que oferece exames ultrassonográficos gratuitos ou com pagamento simbólico para pessoas de baixa renda, além de manter um programa de ensino ultrassonográfico via internet, no site www.portallucykerr.com.br.
Técnicas e tecnologias
Hoje, existem várias técnicas e aparelhos de elastografia para estudar a elasticidade dos tecidos, inclusive com princípios físicos distintos. Os principais métodos em uso são a elastografia estática manual, a elastografia dinâmica e a feita por meio de ondas de cisalhamento, da qual a VTE faz parte. A elastografia manual gera as imagens denominadas de elastogramas por meio da compressão manual exercida pelo especialista sobre o tecido a ser examinado. Sua principal vantagem é ter maior nuances de cores e mostrar sutilezas das variações da dureza tecidual, mas sua profundidade é limitada.
Já a elastografia dinâmica é usada principalmente acoplada aos aparelhos de ressonância magnética, enquanto a virtual tem a sua tecnologia disponível em dois equipamentos: o Aixplorer, fabricado pela francesa Supersonic Image, e o Acuson-Siemens 2000, que utiliza a tecnologia do impulso de radiação acústica e acopla duas modalidades no mesmo equipamento: uma que produz elastogramas ou mapas da dureza tecidual e é denominado de elastografia de toque virtual e a outra, a elastografia quantitativa, que estima a dureza tecidual pela mensuração da velocidade de propagação das ondas de cisalhamento.
Para saber mais – Métodos de diagnóstico
Câncer de mama: http://www.youtube.com/watch?v=1WRDVF_m_sk&list=UUnSQatz_6fMExTSaQ8ZG_mQ
Doenças hepáticas: http://www.youtube.com/watch?v=H40_BXJWOYU&list=UUnSQatz_6fMExTSaQ8ZG_mQ