Por Fabíola Musarra
Visitar o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubrian (Masp) é como conhecer um pedaço do mundo, passeando por diferentes épocas de sua história. Com uma arquitetura – é intercalado por vão livre de 74 metros, com dois andares superiores e dois subterrâneos – e projeto arquitetônico assinado por Lina Bo Bardi, o museu é um dos mais importantes cartões-postais da capital de São Paulo.
Com mais de oito mil peças e um acervo fixo de 750 obras, o Masp foi criado para ser um museu dinâmico, com um perfil de centro cultural. Por ter sido criado dentro dessa concepção, possui espaços diferenciados para realização de exposições dos mais variados temas ou suportes. Ao visitá-lo, encontra-se sempre uma novidade. São exposições nacionais e internacionais de arte contemporânea, fotografia, design e arquitetura, que se revezam durante o ano todo.
O Masp possui pinacoteca, biblioteca, fototeca, filmoteca, videoteca, cursos de artes e serviço educativo de apoio às exposições, exibição de filmes e concertos musicais. Ao ir conhecer o seu acervo, o visitante pode apreciar desde pinturas e esculturas de artistas nacionais e internacionais até coleções raras de tapeçaria valiosíssimas, gravuras.
História – Situado no centro financeiro da Capital de São Paulo, na avenida Paulista, o prédio onde hoje funciona o museu foi construído pela Prefeitura paulistana e inaugurado pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, em 7 de novembro de 1968. O início de sua história, porém, data de 1946, no Edifício dos Diários Associados, cuja presidência era ocupada pelo jornalista Assis Chateaubriant.
Fundador e proprietário dos Diários e Emissoras Associados, o empresário paraibano também havia sido embaixador do Brasil em Londres, na Inglaterra. E foi nesse período, em uma de suas viagens à Itália que conheceu o jornalista e crítico de arte Pietro Maria Bardi e sua esposa Lina Bo Bardi, arquiteta modernista italiana, convidando o casal para criar aqui uma pinacoteca, não com a finalidade dirigida apenas à conservação de obras, mas como um centro propulsor de artes.
O professor italiano aceitou a tarefa e inicialmente o museu ocupou quatro andares do edifício dos Diários Associados, adaptados por Lina Bo Bardi. O novo prédio demorou 12 anos para ser construído – de 1956 a 1968 – e, quando foi inaugurado, tornou-se o único no mundo a manter sua estrutura principal apoiada em quatro pilares laterais com um vão livre de 74 metros.
Mais do que seu pioneirismo arquitetônico, o Masp reflete – antes de tudo – o espírito inovador de seus criadores: o professor italiano e o jornalista paraibano, uma feliz parceria, cujo resultado todos conhecem: um novo conceito de museu, que reúne em seu interior muito mais do que um dos mais expressivos acervos de arte do hemisfério sul, mas também um conjunto de atividades de caráter didático para que todos os seus visitantes possam compreender o significado das obras expostas.
Pinturas – Em suas coleções, o segmento preponderante é o de pinturas ocidentais que cobre o período que vai do século 13 com Maestro del Bigallo até pintores contemporâneos como o dinamarquês Wiig Hansen. Entre as diferentes escolas representadas na coleção destacam-se as pinturas da escola italiana, com obras de Rafael, Andrea Mantegna, Botticcelo, Bellini e Ticiano.
Se o visitante quiser conhecer melhor a pintura espanhola encontrará no museu obras de artistas da importância de El Greco, Velazquez, Zurbarán, Murillo e Goya, enquanto da escola flamenca constam trabalhos de artistas como Rembrandt, Frans Hals, Holbein, Cranach, Memling e Ruysdael.
Pinturas de Gainsborough, Tumer e Constable, por exemplo, representam a escola inglesa, enquanto que o segmento referente à pintura de origem alemã foi há alguns anos enriquecido com a doação de uma obra de Pechestein.
Mas a maior parte do núcleo de arte europeia do Masp é integrada por pinturas francesas. Em seu interior, o visitante pode apreciar, por exemplo, desde os quatro retratos das filhas de Luiz 15, pintados por Nattier, até as alegorias das quatro estações de Delacroix, além de obras de Clouet e Poussin.
A coleção de impressionistas do Masp é uma das maiores do mundo, reunindo obras de Degas, Manet, Monet, Cezanne e Renoir. Dos pós-impressionistas, o visitante pode se extasiar diante de belíssimos quadros de Van Gogh e de Toulouse-Lautrec.
De seu acervo constam ainda obras dos muralistas mexicanos Rivera e Siqueiros, além de outras de pintores brasileiros como Lasar Segall, Anita Malfatti. Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e Portinari, entre outros.
Esculturas e gravuras – Ponto alto do acervo do museu é o espaço dedicado à coleção completa de esculturas de Edgar Degas. Com 73 peças, essa coleção de bronze apenas pode ser vista no Masp e em outros poucos museus do mundo, como no Metropolitan de Nova Iorque ou no Museu D`Orsay, em Paris, na França.
Também os mármores do século 4 a.C. representando a deusa grega Higéia e um sarcófago com relevos de 140/200 d.C são destaques desse acervo, que também é integrado por peças de Agostino di Duccio (séc. 15), Girolamo Santacroce (séc. 16), de um escultor anônimo toscano (séc. 17) e Giuseppe Mazzuoli (séc. 18).
O espaço reúne ainda esculturas do século 19, como os dois bronzes de Rodin e um relevo de Honoré Daumier, além de esculturas contemporâneas. Entre as quais um Lipchitz e peças de Victor Brecheret, Bruno Giorgi e Ernesto de Fiori. Para quem gosta da escultura brasileira, há um São Francisco de Paula atribuído a Aleijadinho e a escultura Sant’Ana e a Virgem, de autoria de um escultor baiano do século 18.
Em se tratando de gravuras, o visitante não pode deixar de conhecer as criadas por Goya em 1815 e publicadas em 1.816 e também as dez gravuras de Max Beckmann. Entre os brasileiros, destaque para as assinadas por Lívio Abramo, Fayga Ostrower, Maria Bonomi e Renina Katz. Já quem aprecia desenho, Em seu grande acervo de desenhos constam nomes os produzidos por Debret, Jean-Baptiste Greuze, Rodin e Oskar Kokochka, além dos de autoria de Flávio de Carvalho e Tarsila do Amaral.
Preciosidades – O Masp reúne ainda tapeçarias valiosas como as da Série das Pequenas Índias, datadas de 1723 a 1730. Em seu interior, há ainda uma coleção de design, na qual o relógio Times Five, de Andy Warhol, é um dos pontos altos. Quanto ao vestuário, o visitante pode conhecer peças como um costume desenhado por Salvador Dali, além de outras 136 peças de artistas nacionais .
Há ainda uma fascinante coleção das maiólicas, cujas peças datam do período Arcaico (século 14) ao Storiato (séculos 16 e 17) e são provenientes de Florença, Siena, Cafaggiolo, Veneza, Faenza Urbino, Gubbio e Deruta, entre outros centros de produção. Integrada por mais de 520 cerâmicas, porosas e coloridas, com revestimentos transparentes ou opacos e decorados com reflexos metálicos, essa coleção pertencia ao colecionador europeu Imbert e foi sendo adquirida a partir de sua permanência em Roma, em 1897.
Além das maiólicas, várias peças de arte africana integram a coleção do museu, como os instrumentos usados nos rituais mágico-religiosos por várias tribos do centro-oeste africano, que foram recentemente doados pelo BankBoston.
Quem aprecia a arte asiática, não pode deixar de conhecer a delicadíssima dançarina chinesa em terracota da Dinastia Han. A peça faz parte da coleção de peças de origem asiática doadas por William Daghlian, colecionador, pianista e professor de piano radicado em Nova Iorque. Destaque ainda para o desenho sobre papel para leque de Utagawa Toyoharu, um dos primeiros artistas japoneses a desenvolver a gravura de paisagem com fundos de arquitetura em perspectiva e em escala com as figuras.
Já para quem se interessa por objetos kitsch, o museu reserva uma coleção de mais de 700 peças, enquanto que os aficionados por arqueologia encontram no Masp um museu à parte, cujo acervo de 72 peças de diferentes civilizações do Egito, Grécia, Itália, França e Espanha foi doado pelo casal Lina Bo e Pietro Maria Bardi, em 1976.
Vale a pena embarcar nesse passeio e caminhar pela história.
SERVIÇO
Masp – Av. Paulista nº 1.578, tel. (11) 3251-5644, próximo à estação do metrô Trianon-Masp
Segunda-feira: fechado
De terça a domingo: das 11h às 18h (bilheteria aberta até 17h30)
Quinta-feira: das 11h às 20h (bilheteria até 19h30).
Por questões de segurança, o Masp permanece fechado nas seguintes datas: segunda e terça-feira de Carnaval, dias 24 e 25 de dezembro (Natal) e dias 31 de dezembro e 1º de janeiro (Ano Novo). Nas demais datas, o Masp está sempre aberto de terça-feira a domingo.
Ingressos:
O ingresso integral custa R$ 15 e dá direito a visitar todas as exposições em cartaz no dia da visita. Estudantes, professores e aposentados com comprovantes pagam R$7 (meia-entrada).
Menores de 10 anos e maiores de 60 anos de idade não pagam ingresso. Terças-feiras: entrada gratuita para o público em geral.