Trem danado de bão

Esculpida em meio às montanhas centrais de Minas Gerais, Belo Horizonte seduz o visitante pelos projetos arquitetônicos franceses do século 19 e pelas modernas obras de Oscar Niemeyer. Transpira  cultura , história, agito para todas as horas  e gastronomia de primeira. Em suas ruas,  é possível dar um “tiquim” de prosa e testemunhar o jeito mineiro de ser

Por Fabíola Musarra

Primeira capital planejada do País, Belo Horizonte, em Minas Gerais, concilia os ares de província com o charme de sua personalidade cosmopolita. Passear pela praça da Liberdade é percorrer o calendário da história e imaginar como viviam os inconfidentes nos tempos do Brasil Colonial. Nas ruas ao seu redor, é possível apreciar palácios neoclássicos de inspiração francesa do século 19 e prédios modernistas projetados por Oscar Niemayer, a maioria deles hoje ocupada por órgãos governamentais.

Avançar no tempo e conhecer outro deslumbrante cartão-postal de autoria do mestre: o complexo paisagístico e arquitetônico da Pampulha, construído bem antes de Brasília, nos anos de 1940. Situada aos pés da Serra do Curral, Beagá, como é carinhosamente conhecida, é tudo isso e muito mais: reúne história, arte, religiosidade, folclore e tradições, constituindo-se num efervescente palco de atrações que a todos seduz.

 

Quando a capital de Minas Gerais foi fundada em 1847, os engenheiros que a projetaram previam que, ao completar um século, ela teria uma população de 200 mil habitantes. Hoje, passado o centenário de sua fundação, a metrópole tem mais de dois milhões, o que também equivale a dizer que possui um incontável número de atrativos. Basta ver que é considerada a cidade brasileira com o maior número de bares por habitante. Sua agitada vida noturna oferece opções para os mais variados gostos, estilos e bolsos, desde barzinhos descolados a concorridos restaurantes onde imperam a gastronomia internacional de primeira.

Berço de compositores que fazem parte de um importante capítulo da música popular brasileira – Milton Nascimento, Clube da Esquina, Skank e Jota Quest, só para citar alguns –, Belo Horizonte também é famosa pelos eventos nacionais e internacionais que promove. São festivais de dança, teatro e circo, além de shows e exposições.

Largas avenidas abrigam a eclética produção cultural da metrópole mineira. Centenas de livrarias, galerias de arte, museus, cafés, casas de espetáculos, cinemas, teatros, lojas, shopping centers, botequins, barzinhos e restaurantes espalham-se por suas ruas, sobretudo em Savassi, uma badalada área que abrange parte do bairro dos Funcionários até próximo à Praça da Liberdade.

Passarela por onde desfilam a moçada descolada, gente bonita, crianças, boêmios, intelectuais, artistas e empresários, o sofisticado centro comercial foi batizado com esse nome por sediar a concorrida padaria da família Savassi. Na década de 1940, a região assistiu inúmeros bate-papos de políticos e de pessoas da alta sociedade. Hoje, a padaria não existe mais, porém o lugar ainda é ponto de encontro e parada obrigatória na hora do almoço, no happy hour, na balada da noite e também de madrugada. É na Praça da Savassi e em seu entorno que tudo acontece.

Mas o terceiro centro industrial brasileiro não seduz os turistas apenas pelas suas opções de entretenimento. Ali diversão e negócios passeiam juntos. Conhecida pelo seu enorme potencial, a capital mineira é um dos maiores polos industriais da América Latina – seu parque produtivo é o quinto maior da América do Sul. Destaque para a indústria automobilística e de autopeças, siderurgia, eletrônica e construção civil. O setor industrial, aliado ao fato de também ser um centro fashion que dita a moda do País, faz de Beagá um borbulhante roteiro de eventos empresariais.

Estrategicamente situada na área central do Estado, a capital das Gerais tem um clima ameno e agradável, uma intensa cartela de tons de verde que tingem seus parques, e a sua gente se orgulha de a cidade ser uma das portas de acesso aos parques nacionais da Serra do Cipó (dista 100 quilômetros da cidade) e do Caraça (118 quilômetros), além de ficar bem pertinho de Sabará, São João Del Rey, Congonhas, Ouro Preto, Tiradentes e Diamantina, entre outras cidades históricas.

Com fama reconhecida inclusive no Exterior por reunir um invejável acervo de obras de arte do barroco brasileiro, sobretudo peças produzidas por Aleijadinho, essas cidades mineiras são um verdadeiro tesouro do Estado, embora nos idos da colonização portuguesa não faltassem bandeirantes e traficantes em busca dos então abundantes diamantes e ouro de suas minas. Ouro Preto e Diamantina desempenharam um papel tão significativo nesses ciclos que foram declaradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Belo Horizonte, porém, é bem mais que uma porta de acesso para as cidades históricas de Minas, ela mesma é própria história, cujos capítulos sua gente escreve todos os dias. “Causos“, lendas, versos e prosas permeiam suas ruas e esquinas, sempre contados com o encanto maroto mineiro, num jeito “danado de bão” de ser. Impossível desvendar a história da cidade em uma única visita. É preciso voltar sempre para lá e, em cada regresso, sem nenhuma pressa, ler cada um de seus fascículos!

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