Inveja – O pecado inútil

Por Fabíola Musarra – Publicado em julho de 2009

O ressentimento em relação aos outros parece ser inato, sobretudo nas pessoas de talento. Por quê? Será o dinheiro, a fama, os carros de luxo ou a beleza física é que desencadeiam a inveja? Ou ela nasce simplesmente da nossa insegurança?

A inveja é um dos sentimentos mais difusos, mas ao mesmo tempo é o que temos maior dificuldade em admitir. É o único pecado capital completamente inútil (ao contrário da gula ou da luxúria); no entanto, é tão poderoso que provoca grande sofrimento em quem o experimenta. Psicólogos e sociólogos ainda não sabem exatamente o que é a inveja nem de onde ela vem. Mas, na história da humanidade, a inveja tem sido a causa de grandes realizações.

A execução dos afrescos da abóbada da Capela Sistina, por exemplo, foi confiada a Michelangelo diante da insistência do grande arquiteto e pintor Bramante (1444-1514). Este último, que invejava o talento e a qualidade do trabalho de Michelangelo, estava convencido de que a pintura em tetos era o seu ponto fraco. Acreditando que Michelangelo não seria capaz de realizá-la, usou de sua influência para que a obra fosse encomendada ao rival. Resultado: Michelangelo criou uma das mais extraordinárias obras-primas da história da arte.

Como nasce a inveja? Comecemos pelo próprio sentido da palavra: ela vem do latim invido, de olhar mal, ou melhor, de mau-olhado (na Itália meridional, tirar o mau-olhado significa expulsar a inveja). O invejoso lança um olhar fulminante sobre o objeto invejado. Eis por que, quando sentimos inveja de uma pessoa, não conseguimos enxergar um único lado positivo nela. Não por acaso costuma-se dizer que a inveja seca. Lembram-se da expressão “olhar de seca-pimenteira”? O sociólogo italiano Francesco Alberoni, no livro Os invejosos, escreve: “O invejoso diminui o sucesso dos outros, sustentando que ele é fruto de uma injustiça. Porém, se o invejoso estivesse vivendo as mesmas condições e recebendo o mesmo reconhecimento que a pessoa alvo de sua inveja, ele diria que o seu sucesso seria merecido.”

Quem é mais invejoso? Muitos psicólogos costumam dizer que são os homens. Uma pesquisa revela que 22% dos entrevistados dizem sentir inveja de quem faz viagens longas, 39% admitem cobiçar a companheira do colega, 12% invejam o sucesso profissional, 6%, o carro e 3%, quem tem uma casa do sonho.

A inveja é fruto da insegurança. Essa é a tese do psicólogo Umberto Galimberti, segundo a qual somos inseguros, não nos conhecemos bem e, por isso, somos invejosos. Para o sociólogo austríaco Helmut Schoeck, a inveja faz parte da natureza humana e pronto. Não há nada a fazer. Os grandes sistemas mitológicos do passado, dos mitos gregos à Bíblia, fazem referências aos invejados e aos invejosos e parecem comprovar a opinião de Galimberti.

A história bíblica de Caim e Abel é um desses exemplos: Caim sente ciúmes da atenção que Deus dá a Abel. Sentindo inveja por acreditar que seu irmão é o preferido do Senhor, Caim assassina Abel. Zeus, o deus supremo da mitologia grega (Júpiter para os romanos), era muito veemente: de tal modo invejava a felicidade e a plenitude do homem que decidiu dividi-lo em dois. Assim, a partir disso, cada um de nós está condenado a procurar sua outra metade.

Não invejamos tanto o sucesso quanto a plenitude e a felicidade (embora o sucesso também seja objeto de desejo e cobiça). “A inveja”, prossegue Galimberti, “tende a diminuir a expansão do outro por conta da nossa própria incapacidade de nos expandirmos. Por isso, ela representa uma implosão da vida, um mecanismo de defesa que, na tentativa de salvaguardar a própria identidade, termina por comprimi-la.”

Os talentosos correm mais risco de ser invejados do que as pessoas comuns. Segundo o filósofo grego Platão, Sócrates foi condenado pelos democratas que estavam no poder por pura inveja, simplesmente porque ele tinha conquistado a felicidade completa que advém de uma grande sabedoria. Por sua vez, William Shakespeare afirmava que na Roma Antiga os conspiradores assassinaram Júlio César movidos também por pura inveja.

O estadista, orador e filósofo romano Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) sustentava que a inveja é o pior dos males. O filósofo Friedrich Nietzsche disse que o mundo todo invejava Napoleão Bonaparte por sua grandeza. Famosíssima também é a inveja que o compositor italiano Antonio Salieri sentia de Mozart – alguns afirmam, inclusive, que a inveja que ele nutria pelo compositor austríaco o levou a assassiná-lo. Mesmo que essa história de envenenamento seja apenas um boato, o poeta e escritor russo Alexander Sergeevich Pushkin (1799-1837) acreditou nela e, em 1830, escreveu o pequeno drama em versos Mozart e Salieri (originariamente intitulado Inveja). Na obra, Salieri, tomado de inveja do jovem músico, encomenda para o rival um réquiem, com a intenção de roubar a obra e depois envenená-lo.

A verdade é que a inveja é quase sempre um sentimento inerente às pessoas dotadas de talento, pois é dentro desse espírito competitivo que elas encontram o combustível para fazer cada vez melhor. É bastante conhecida a inveja recíproca que inflamou Verdi e Wagner, dois gênios da composição musical.

O poder da inveja costuma ir bem mais além do que em geral supomos. Para o economista norueguês Jon Elster, “emoções como o sentimento de culpa, a inveja, a indignação e a vergonha, combinadas com outras motivações de interesse individual, desenvolvem um papel bastante significativo na determinação do comportamento social e econômico”.

Segundo Nietzsche, a inveja é a base da sociedade igualitária. Em Humanos são humanos, ele escreveu: “O invejoso, quando enaltece a ascensão social do outro, acima da ação comum, pretende rebaixá-lo ao máximo.” Segundo muitos sociólogos, a inveja é um dos pilares básicos da revolução proletária: não gosto da sua riqueza, mas é justo que todos possuam os mesmos bens que você possui. Melhor tudo igual, mesmo que tudo fique nivelado por baixo.

Uma das características do invejoso é manifestar desprezo pelo objeto invejado. A fábula A raposa e as uvas, de Esopo, ilustra bem essa situação: não podendo alcançar as uvas que pendiam do alto da parreira, a raposa vai embora afirmando não querer as frutas porque elas não estavam maduras.

OS HOMENS MAIS INVEJADOS

A riqueza vence o charme, pelo menos no que diz respeito aos homens. Segundo pesquisa realizada pela associação norte-americana Brouillard, o homem mais invejado do planeta é Bill Gates, com seu império de informática. Muitos norte-americanos gostariam que ele fosse presidente da República, não apenas por sua riqueza, mas também pela segurança que transmite.

De acordo com uma seleção feita pelo site Premier Training International, entidade inglesa de estudos de fisiculturismo, o segundo lugar no ranking dos mais invejados pertence ao astro que interpretou o agente secreto James Bond nos dois últimos filmes da série 007: Daniel Craig. O ator inglês ocupou o topo no rol dos “corpos mais invejados do mundo”. Ele tem um belo rosto, mas, para os homens, ter um físico esculpido e forte é muito mais importante.

A seguir estão as estrelas Brad Pitt e Johnny Depp, mas não apenas por sua beleza: o primeiro, por ser casado com a atriz Angelina Jolie – e, como se sabe, ter uma linda mulher como companheira é uma das maiores fontes da inveja masculina. Já Johnny Depp dispensa palavras: desperta a atenção de todos que fazem parte da indústria cinematográfica, pois é belo, charmoso e famoso.

Nicolas Sarkozy encerra a lista: é invejado por sua posição política – é o atual presidente da França -, mas também pela beleza de sua mulher, a modelo Carla Bruni.

AS MULHERES MAIS INVEJADAS

Segundo várias pesquisas norte-americanas (uma das últimas divulgadas foi a da Isaps, entidade que agrupa importantes personalidades e empresas do mundo da estética) Angelina Jolie é a mulher mais invejada do mundo, por sua beleza e pelo seu belo marido, o ator Brad Pitt.

De acordo com as mulheres, uma mulher bonita com um marido bonito sempre exerce fascínio. A diva Jennifer Aniston, de quem Angelina Jolie “roubou” Brad Pitt, se consola: “Angelina ganhou somente pelos seus cabelos”, conforme declarou à revista Hair Magazine. Não é pouco: na escala de valores femininos, o ponto fraco das mulheres é o cabelo, seguido da pele.

O segundo lugar da pesquisa ficou com a atriz Nicole Kidman. Sua colega, a atriz e modelo Liz Hurley, celebridade que desfilou nas mais importantes passarelas internacionais, despertou a inveja dos ingleses por seu matrimônio milionário com o empreendedor indiano Arun Nayar.

A última colocada é a atriz Valeria Golino, a quarentona que é muito invejada pelo seu noivo, Ricardo Scarmacio. Além de lindo, ele é bastante jovem – tem 30 anos.

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