Nova Jerusalém, palco da fé
Por Fabíola Musarra
Conhecido nacionalmente pelo seu Carnaval, pelos batuques do maracatu e por seus criativos passistas de frevo, Pernambuco se transforma depois da quarta-feira de cinzas. Todo o Estado vira palco para as manifestações religiosas da quaresma católica, período que antecede a Semana Santa. Do Litoral ao Sertão, acontecem missas, novenas e encenações relembrando os últimos dias de Jesus na Terra. E é exatamente em um pequeno lugarejo deste Estado que acontece uma das mais famosas encenações teatrais sobre a vida e morte do Homem de Nazaré: Nova Jerusalém, cidade-teatro que hoje é sinônimo de uma das maiores expressões da fé e da religiosidade do povo nordestino.
Localizada na estância hidromineral da Fazenda Nova, distrito do município Brejo da Madre de Deus, há 180 quilômetros de Recife, em pleno agreste pernambucano, Nova Jerusalém vem reproduzindo a Paixão de Cristo há quase 60 anos, mais precisamente desde 1951. A partir dessa data, todos os anos, durante oito dias consecutivos, a saga de Jesus é revivida num espetáculo de duas horas e meia de duração. Ocupando uma área de 70 mil metros quadrados, o equivalente a um terço da Jerusalém original, a cidade-teatro é equipada com os mais modernos recursos tecnológicos de som, luz e efeitos especiais.
A encenação envolve centenas de atores, profissionais e figurantes, incluindo o próprio público. Como não conseguem ficar indiferentes ao que assistem, os espectadores participam das cenas, transformando-se também em figurantes. Na cena em que Jesus carrega a cruz para o calvário, por exemplo, quando ele cai várias vezes durante o trajeto, as pessoas se emocionam, e fazem de tudo para poder ajudá-lo. A participação do público, aliás, é intensa, o que confere mais realismo e beleza à encenação.
Além da grandiosidade e da moderna tecnologia deste que é um dos maiores teatros ao ar livre do mundo, a paisagem de Nova Jerusalém também impressiona. Tudo ali remete à árida região da Judéia do ano 33 d.C: o espaço é todo cercado por uma muralha de pedras de 3,5 km de extensão, com sete portas e 70 torres de sete metros de altura. Em seu interior, o Palácio de Herodes e o Fórum de Pilatos remetem os fiéis à época em que viveu Cristo. Comovida, uma multidão de espectadores movida pela fé prossegue interagindo com os atores que interpretam a Via Crucis da Paixão de Cristo, revivendo os seus sofrimentos e, conseqüentemente, renovando os sentimentos cristãos.
Em Nova Jerusalém, porém, o drama vivido por Cristo em seus últimos dias na Terra não termina em sofrimento. Em vez da tristeza pela perda do Mestre, o espetáculo termina com a esplendorosa ressurreição de Jesus. E ele ascende aos céus triunfalmente num elevador camuflado sob efeitos de nuvens brancas, muita luz e música e fogos de artifício, num espetáculo imperdível que emociona a todos.