Situada na Sicília, a bucólica cidade do sul da Itália traduz em cores, aromas, belezas e sabores como é a mágica e contagiante a experiência de viver o dolce far niente que impera no país.
Não é em qualquer lugar do mundo que se tem como vizinhos o mais ativo vulcão da Europa – o Etna – e o azul neon do Mar Jônico. Esse é um privilégio de Taormina, uma badalada cidade balneária de Messina, na Sicília. Fonte de inspiração para escritores como D.H. Lawrence, Oscar Wilde e Truman Capote, a multicolorida e vibrante vila situada quase na fronteira com a província de Catania oferece clima quente quase o ano todo (aqui, o inverno tem temperaturas mais amenas).
Graças à posição geográfica que ocupa, esse multicolorido “terraço” que se debruça sobre uma pequena montanha é um dos destinos turísticos mais cobiçados do mundo. Taormina espalha-se graciosamente pelas encostas do Monte Tauro, uma colina de pedra 200 metros acima do nível do mar, exibindo um visual dos sonhos: de lá, do alto da cidade, é possível admirar o intempestivo Vulcão Etna e a costa jônica siciliana. Abaixo do monte, fica Isola Bella, com suas praias de águas azul-esverdeadas.
Ruas medievais repletas de jardins floridos imprimem um ar ainda mais bucólico a esse glamouroso lugar, que abriga as ruínas de um teatro greco-romano do século II a.C. (alguns livros mencionam que ele data do século III a.C.), além de preciosos tesouros históricos, arquitetônicos e culturais. A cidade oferece boa infraestrutura, com hotéis e pousadas para todos os bolsos. Sua gastronomia é impecável – além dos excelentes restaurantes, conta ainda com efervescentes gelaterias, cafés e barzinhos.
As paisagens tingidas por encantos naturais são tantas que é até impossível descrever. Incansáveis, elas revezam incessantemente e nem é preciso fazer muito esforço para desvendá-las: basta pegar um bonde até a praia, embarcar no teleférico ou subir a pé até a Igreja de São José para desfrutar de vistas cinematográficas. Não é tudo. Nesse solo onde o tempo parece não passar, as pessoas são solícitas e acolhedoras. Aqui, tudo é magia. Tudo inspira e seduz.
Retratos da história
A máfia nasceu na Sicília, a maior ilha do Mediterrâneo. A Cosa Nostra surgiu na primeira metade do século XIX e atravessou os oceanos, invadindo os continentes. Embora ainda hoje tenha forte influência e atuação em Palermo e Corleone (lado oeste da ilha), a sociedade secreta e criminosa e suas famiglias (não são necessariamente a família consanguínea, mas a unidade básica da máfia) nunca pisaram no nordeste siciliano, onde fica Taormina.
A violência utilizada pelos mafiosos em suas ações e perseguições e o receio de ter de cumprir à força às determinações da organização criminosa, pagando um elevado preço pela sobrevivência, fizeram a Sicília ficar praticamente abandonada por anos. Esse fato explica, de um certo modo, a história, a geografia e o atraso dessa ilha italiana. Porém, ele não é o único.
Durante mais de três mil anos em que a região foi considerada o centro do mundo, a “bola da bota” na península itálica pagou caro pela localização estratégica que ocupava nos mapas do mundo antigo e pelas riquezas produzidas pelo seu fértil solo vulcânico. Desde a Grécia Antiga, se viu invadida por viajantes vindos dos mais variados lugares do planeta: cartagineses, fenícios, gregos, bizantinos, romanos, árabes, normandos, espanhóis e austríacos…
A Sicília perdeu sua importância na transição entre o feudalismo e uma tentativa de criação de um Estado moderno. Mesmo assim, continuou tendo suas terras devastadas por anos e anos. Já durante o Império Romano a ilha tinha a tarefa de abastecer a Itália continental. A exploração contínua de suas riquezas agrícolas ao longo de séculos e o fato de a máfia ter surgido na ilha deixaram irreparáveis cicatrizes nas províncias sicilianas.
Devastações e cicatrizes à parte, Taormina sempre foi e ainda agora é um dos mais charmosos e autênticos representantes da dolce vita na Itália. Elegante e romântica, a cidade pulsa, com sua gente falante e sempre alegre, mesa farta e paisagens fascinantes. Vive, respira e transborda história, arte e cultura. É absoluta poesia. Assim é este conto de fadas siciliano. É só ir para lá e comprovar!
Praticamente de qualquer lugar de Taormina é possível ver o ameaçador Vulcão Etna, com o seu cume sempre recoberto por neve. Situado na parte oriental da Sicília, entre as províncias de Messina e Catania, é o vulcão mais alto da Europa fora da região do Cáucaso e um dos mais ativos do mundo. O Etna é ainda três vezes maior do que o Vesúvio, vulcão famoso por ter soterrado Pompéia e Herculano em 79 d.C. Com 1.281 metros de altura, o Vesúvio fica em Nápoles, Itália.
O Etna é, sem dúvida, um dos principais postais de Taormina. Com seus 3.350 metros de altitude, ele se exibe imponente em contraste com as turquesas águas do Mar Jônico e a colorida vegetação da Baía de Naxos. Se você gostaria de conhecê-lo de perto, saiba que agências de turismo oferecem passeios monitorados que conduzem ao cume. Mas, se você preferir manter a distância, basta escolher um cantinho central da cidade, sentar em um banco e se impressionar com a majestosa beleza do vulcão.
Volta ao passado
Tão importante quanto o Etna, é o antigo teatro greco-romano (leia-se, as ruínas do que restou dele). Construído em meados do século II a.C. em cima de uma colina, oferece uma vista inenarrável do mar. Durante a ocupação romana, ele chegou a ser transformado em arena para as lutas de gladiadores. Hoje é palco para concertos, óperas e espetáculos de balé. Não deixe de participar de um deles, sentindo-se acariciado pela brisa marinha. Se tiver sorte, assista uma apresentação quando o Etna estiver em atividade. A experiência será inesquecível.
O teatro grego, como se apresenta hoje, é indubitavelmente, da era romana (século II a.C.), época em que existiam estruturas semelhantes às do período helenístico. As antigas origens gregas da construção são sustentadas por algumas inscrições nos degraus e pelos restos de um pequeno templo, que foi sacrificado nos tempos romanos para a expansão da cavea (as escadas para espectadores em teatros e anfiteatros da antiguidade clássica).
Anexo ao teatro está o antiquário onde são guardados importantes achados arqueológicos, como epígrafes e obras esculturais, incluindo uma escultura de um torso humano reproduzindo um original grego, uma cabeça de mármore do período helenístico e um sarcófago feito com esse mesmo material. No local onde funcionava o antigo fórum, hoje a atual Piazza Vittorio Emanuele II, foram encontradas as ruínas de banhos termais do período imperial que consistem em três grandes salas unidas por salas menores.
Ainda na Piazza Vittorio Emanuele II está o Palazzo Corvaia (alguns o chamam de Corvaja), construído no século X pelos árabes que conquistaram e governavam Taormina em 902. A ala direita do edifício remonta à primeira década do século XV. Também data dessa época a construção de um salão para as reuniões do parlamento. De 1538 a 1945, o palácio pertenceu a uma das famílias mais antigas de Taormina, a Corvaia. Com a fachada repleta de ameias, tem janelas gradeadas e um portal gótico-catalão. Uma inscrição em latim é legível em uma placa.
No centro histórico da cidade, a via Corso Umberto é o point onde multiplicam-se lojas de grife e de artesanato, além de vibrantes barzinhos, cafeterias e restaurantes. Ao longo da rua, nas proximidades da Piazza IX Aprile, ficam o Café Wunderbar e o Restaurante Vicolo Stretto. Este último tem o mesmo nome da rua mais estreita da cidade, com 50 centímetros de largura. Ainda na Corso Umberto e perto de Porta Catania está a Piazza do Duommo, que abriga a Catedral de Taormina, dedicada a San Nicolò di Bari.
A igreja medieval teve seu visual remodelado em 1636, como revela uma placa ali existente. Possui fachada simples, dividida em três partes: uma rosácea central que foi inspirada no Renascimento (está disposta acima da porta) e duas janelas laterais. O portal principal possui uma coroa caracterizada por ameias. Com componentes do período barroco, ele é delimitado por duas colunas caneladas coríntias apoiadas em plintos altos. Foi restaurado em 1936.
O interior da igreja é dividido em três naves. A principal delas tem seus arcos ogivais sustentados por seis grandes colunas de mármore rosa de Taormina, com capitéis com motivo foliar e escama de peixe (acredita-se terem pertencido ao teatro grego). O teto é caracterizado por grandes vigas de madeira com prateleiras esculpidas com motivos árabes em estilo gótico. Na parte de trás da catedral fica a torre do bastião sobre a qual os sinos foram colocados em 1750.
Em frente ao Duommo, como a igreja matriz também é conhecida, há uma fonte barroca do século XVII, com uma representação mitológica que também é um emblema cívico: a escultura de um centauro com busto de mulher, o símbolo da cidade. Em torno dela, há esculturas de quatro cavalos-marinhos, que soltam água pelas bocas. A rua Corso Umberto também conduz à central Piazza IX Aprile, onde encontram-se outras preciosidades de Taormina.
A praça não é só mais um dos belíssimos e floridos terraços que abraçam a cidade e que proporcionam vistas belíssimas do mar e do Etna. Ela também abriga outras duas igrejas: a Chiesa di Sant’Agostino e a barroca Chiesa di San Giuseppe, emoldurada pela montanha logo atrás dela. Construção gótica do século XV, a Chiesa di Sant’Agostino foi convertida em biblioteca municipal e dispõe de diversos relatos de viagens pela Sicília.
Esses relatos foram publicados a partir de diários dos Grands Tours, viagens que duravam meses e que viraram moda entre ricos e nobres, principalmente ingleses e nórdicos, do século XVII ao XIX. Ao lado da igreja estão a Torre dell’Orologio (Torre do Relógio) e a Porta di Mezzo (Porta do Meio) que dá acesso a uma área que atrai ambientalistas e arquitetos do mundo todo por suas caracterizações medievais.
Suspensos e coloridos
Neste pedacinho de terra siciliano, os multicoloridos terraços existem em abundância e em diferentes altitudes (use o teleférico e os ônibus, pois os carros não podem circular na área central). Nos terraços, os penhascos se debruçam sobre o mar, formando grutas com praias. Um dos mais famosos é o do Giardini Publici, os jardins de um parque público que fizeram parte da residência da nobre inglesa Lady Florence Trevelyan (1852/1907): a Villa Comunale, no centro da cidade.
Mas o terraço mais bem posicionado para a vista de Taormina, a Baía de Naxos e o Etna, é o do Belmond Grand Hotel Timeo, o primeiro a funcionar da cidade. Com mesas ao ar livre, é perfeito para tomar um drinque no final da tarde – o bar e o restaurante do luxuoso hotel são abertos ao público. Por ter hospedado personalidades como o rei Edward VII da Inglaterra (filho da rainha Vitória) e o kaiser Wilhelm da Alemanha, o hotel transformou Taormina em capital da alta sociedade no Mediterrâneo.
Com sofisticada decoração de quartos e salões que remete ao início do século XX, possui um jardim em desnível que dá acesso à piscina e ao SPA. Tem localização privilegiada: fica ao lado da Corso Umberto e do teatro grego. Quando é realizada uma ópera, os hóspedes vips usam um acesso privativo do hotel para chegar ao teatro. O Grand Hotel Timeo pertence à bandeira Belmond.
Taormina é uma cidade íngreme, praticamente vertical. De seus floridos terraços é possível se encantar com as águas claras da Isola Bella, no Mar Jônico. Ela concentra duas praias em formato de ferradura que convergem, conduzindo a essa pequena ilha. Como fica próxima à costa, é possível, durante a maré baixa, ir caminhando por uma trilha até a ilha, que hoje é uma reserva natural – Lady Florence Trevelyn da Villa Comunale, sobrinha da rainha Victoria, amiga de seu filho Edward e casada com um médico de Taormina, mandou plantar ali espécies raras e exóticas que se mesclam à vegetação nativa.
Se você decidir fazer a caminhada ou mesmo mergulhar nas águas mornas e transparentes da Isola Bella, leve sapatilhas, havaianas ou tênis, pois as praias da ilha não têm faixas de areia, mas sim de pedras. Esse mesmo cuidado você não precisará adotar se for às praias de Giardini-Naxos, a cidade que “mora” aos pés de Taormina. Ali você vai encontrar uma faixa de areia extensa, onde poderá tomar sol e banhos de mar.
Além de contar com mar calmo de águas azulzinhas, das colinas verdes e do Vulcão Etna, a vizinha Giardini-Naxos é o endereço certo para quem deseja fazer um happy hour observando o sol se despedir de mais um dia. Também é ideal para quem quer fazer uma refeição: ali não faltam bares, restaurantes e pizzarias à beira-mar. No verão, as badaladas praias da cidade fervilham e são ponto de partida para inesquecíveis passeios de barco.
Hummm… Que delícia!
Os italianos conhecem a fundo a doce arte de comer bem. Estando em Taormina, experimente na prática o que isso quer dizer – a Sicília tem um rico solo vulcânico e sol para dar e vender, fatores que favorecem a produção de deliciosos tomates, berinjelas, figos-da-Índia, amêndoas, limões, laranjas, pistaches…
Para começar a sua incursão gastronômica, saboreie um gelato italiano (dispensa palavras e já bem conhecido aqui, no Brasil), uma limonada ou uma granita, uma bebida à base de frutas e gelo. Com diferentes cores e sabores, as granitas podem ser encontradas em barraquinhas da cidade. Outra opção é o Chinotto, um refrigerante escuro produzido industrialmente na Sicília desde os anos 50. Feito com laranjas amargas, não é tão doce quanto os refrigerantes.
Na hora de comer, lembre-se que em mais de três mil anos, a Sicília foi ocupada por diferentes civilizações, povos que imprimiram seus traços culturais à “bola da bota”, da qual Taormina faz parte. Os menus dos restaurantes, dos bistrôs e dos barzinhos da cidade são testemunhas do caldeirão gastronômico que ali predomina. A Pasta con le Sarde é um prato que ilustra bem essa fusão.
Preparada com sardinhas, erva-doce, uvas, açafrão e pinoli, é uma mistura de culturas e sabores herdados de outros povos e que hoje fazem parte da culinária da ilha. Ao lado da massa está o pistache, ingrediente usado em muitas receitas, salgadas e doces, incluindo sorvetes. Nativa do sudoeste asiático (Ásia Menor, Irã, Síria, Israel e Palestina), a fruta faz parte da mesa siciliana e é cultivada em Bronte, cidade da região da Catania que é reconhecida como a melhor produtora de pistache da Itália.
Mas, você está em uma ilha, certo? Então é desnecessário dizer que você encontrará muitos pratos à base de frutos do mar e de peixes, principalmente o peixe-espada. Para quem é vegano ou vegetariano, a dica é o Penne alla Norma, uma massa feita com ricota, tomate, manjericão e berinjela. Proveniente da Índia, esta última é muito cultivada na ilha por influência dos árabes, os sarracenos que pela cidade passaram.
Para acompanhar a refeição nada melhor do que degustar a bebida de Baco. Produzidos com uvas cultivadas nos parreirais aos pés do fértil solo do Etna, os vinhos sicilianos são de excelente qualidade. Entre a grande variedade disponível, prove os feitos com as uvas Nerello Mascalese e Nero d’Avola, típicas da Sicília. Também não deixe de experimentar o Vino alla Mandorla, um vinho de amêndoas produzido na ilha.
Depois do gran finale, as sobremesas, termine a refeição com um cálice de Marsala (um dos vinhos de sobremesa siciliano). Se preferir, saboreie um limoncello, o licor feito com o limão siciliano. Foram os árabes introduziram essa fruta na ilha. Ela se adaptou tão bem que até hoje muita gente pensa que é originária da Sicília. O limão siciliano, aliás, empresta o seu toque cítrico a muitas receitas de Taormina.
Por falar em sobremesa, entre as imperdíveis tentações doces da gastronomia siciliana, destaque para o cannoli e para a cassata, doces típicos da Sicília feitos com uma deliciosa ricota de ovelha. Com massa crocante em forma de um tubo, o primeiro é recheado com ricota e pistache. Sua cobertura leva cereja e uma raspinha de laranja. Já a cassata é feita com frutas, ricota e sorvete, entre outros ingredientes. Essas sobremesas são imbatíveis. Bom apetite!
SERVIÇO
Para saber mais, acesse: www.comune.taormina.me.it.
Belmond Grand Hotel Timeo: Via Teatro Greco, 59, tel., + 39 0942 6270200, Taormina, Messina. Site: www.belmond.com/pt-br/hotels/europe/italy/taormina/belmond-grand-hotel-timeo.
Caffè Wunderbar: Piazza IX Aprile, 7, tel. +39 0942 625302, Taormina, Messina. Site: www.wunderbarcaffe.com.
Viccolo Stretto: Além da vista, o destaque do restaurante é seu acesso. Fica num beco que mede menos de um metro de largura, daí sua denominação. Tem como carro-chefe da sua cozinha os pratos à base de frutos do mar e peixes. Vico Stretto 6, tel. +39 0942 625554, Taormina, Messina, Sicília. Site: www.vicolostrettotaormina.it.
Belmond Grand Hotel Timeo: Via Teatro Greco, 59, tel., + 39 0942 6270200, Taormina, Messina. Site: www.belmond.com/pt-br/hotels/europe/italy/taormina/belmond-grand-hotel-timeo.
Foto do destaque: Aos pés de Taormina, a costa jônica e, ao fundo, o Etna. Crédito: Notícias ao Minuto