Por Fabíola Musarra
Desde setembro, a Pizzaria Primo Basílico, em São Paulo, abriga uma exposição original, a “Além da Matéria”, uma coletânea de objetos de 50 personalidades das áreas de cultura, esporte, gastronomia, moda, política e ação social, que revela um lado inusitado e emocionante de coisas simples – os segredos dos objetos. “Pedi a cada participante que nos fornecesse um objeto pessoal que tivesse um alto valor emocional, simbólico e histórico, capaz de emocionar pela riqueza humana que carrega”, conta a arquiteta e diretora de arte Kita Flórido, curadora da mostra.
A exposição demorou um ano para ser realizada, tempo gasto para a curadora conceber, escolher e conversar com os participantes para que refletissem sobre qual objeto cederiam para o evento. Entre eles, há nomes como Ana Moser, Raí, Arnaldo Antunes, Eduardo Suplicy, Jorge Mautner, Marcelo Jeneci, Marina Person, Maria Fernanda Cândido e José Miguel Wisnik. “São personalidades que, cada uma em seu segmento, contribuíram de alguma forma para o ser humano ser melhor”, explica. Ou seja, revelamse as coisas que dão sentido às histórias de cada um.
Mas o detalhe interessante é que os nomes dos donos dos objetos não são revelados e não podem ser identificados na mostra. O anonimato proposital destina- se a mostrar ao público que por trás de uma simples imagem ou um objeto há histórias fantásticas. “Muitas vezes tudo isso passa totalmente despercebido, sobretudo quando nos contentamos com a primeira impressão”, explica a curadora.
De fato, o mistério sobre a história e a propriedade dos objetos pode, sim, ser desvendado, se o público se esforçar um pouco. Na pizzaria estão disponíveis iPads para que os visitantes saibam a quem pertence cada um dos objetos e qual é a história deles.
Quem se interessar também pode baixar gratuitamente o aplicativo em seu tablet, com o nome Primo Basílico, da Apple Store, cuja versão digital apresenta fotos de João Carneiro e textos de João Guilherme Lacerda. “Futuramente, pretendemos criar um museu internacional, com objetos de pessoas de todo o mundo, mas isso depende de patrocínio”, afirma Kita.
Serviço
Até 2012, a mostra “Além da Matéria” estará na Pizzaria Primo Basílico, Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.864, São Paulo (SP), site: www.primobasilico.com.br. De domingo a quinta das 18 horas à 0h30. Às sextas e sábados, das 18 horas à 1h30.
Óculos à John Lennon Quando os Beatles se separaram, a cineasta Marina Person tinha um ano. Iria completar 12 anos quando John Lennon foi assassinado. Apesar de não ter conhecido a banda, tornou-se fã dela, especialmente de John, paixão herdada dos primos – beatlemaníacos. Assistiu a todos os filmes e decorou todos os sucessos do grupo. Quando descobriu que teria de usar óculos, optou por um modelo igual ao de Lennon. Anos mais tarde, decidiu fazer uma cirurgia corretiva. Os óculos se foram, mas a admiração não. Ex-produtora do canal musical MTV, a apresentadora do programa Cultura Retrô, da TV Cultura, sempre se envolveu com música, teatro, fotografia e cinema, tendo dirigido o filme Person – Um Cineasta de São Paulo sobre seu pai, o cineasta Luiz Sérgio Person. |
Jogo de botões A coleção de botões herdada do pai tem 80 anos de idade. Mais do que um jogo, os botões de osso serviam de pano de fundo para a transmissão de valores paternos. Mesmo com a agenda repleta de compromissos, o publicitário Percival Caropreso se emociona ao se lembrar dos campeonatos disputados com o pai. Hoje, Caropreso tem cinco filhos, é membro do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária e fundador da Setor 2 ½, uma assessoria que promove a convergência de empresas e organizações não governamentais. Reinações de Narizinho A edição de 1975 do livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, foi o presente que o escritor, compositor e professor José Miguel Soares Wisnik ganhou do pai na infância. Lendo suas páginas, surgiu um interesse pela literatura e o desejo de ser escritor. O livro ficava guardado na estante de casa, mas um dia desapareceu. Mais de 30 anos depois, ocorreu um inusitado reencontro entre Wisnik e Narizinho. Durante um almoço, uma amiga lhe deu o livro de Monteiro Lobato, encontrado em um sebo. Na primeira página estava a assinatura de Wisnik, comprovando ser aquele mesmo exemplar perdido da infância. Hoje, o paulista de São Vicente é professor da USP e vencedor do Prêmio Jabuti de literatura, duas vezes. Wisnik foi pianista da Orquestra Municipal de São Paulo com 17 anos, é autor de partituras para filmes, espetáculos de dança e peças teatrais e parceiro de Tom Zé e de Caetano Veloso. |
Colmeia Jovem, Paulo Nogueira Neto ganhou do futuro sogro uma colmeia de abelhas sem ferrão. Nativa do Brasil, a espécie praticamente não havia sido estudada. O presente produziu uma guinada na vida do estudante de Direito. Intrigado com o desconhecimento sobre as abelhas, começou a estudar a espécie. Formou-se bacharel, mas graduou-se em História Natural, um mix dos cursos de biologia e geologia de hoje, prosseguindo com a carreira acadêmica até o pós-doutoramento, sempre com foco nos insetos. Atualmente, Nogueira Neto é um dos maiores especialistas em abelhas sem ferrão do mundo. Por 12 anos, esteve à frente da Secretaria Especial do Meio Ambiente do governo federal, transformada posteriormente em ministério. Aém de pioneiro do ecologismo no Brasil, Neto foi fundador da SOS Mata Atlântica e presidente mundial da WWF, entidades das quais ainda hoje é conselheiro. |
Paris Saint-Germain Jogador famoso, Raí Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Raí, foi presenteado com um quadro (abaixo) pelo clube francês Paris Saint-Germain (PSG), em homenagem à sua dedicação à equipe. O quadro marca sua despedida do time, quando toda a torcida da arquibancada se vestiu de verde e amarelo em sinal de admiração. A tela tornou-se parte de uma coleção limitada de objetos comemorativos do PSG, no qual permanece como testemunha da relação carinhosa que o jogador manteve com os seus fãs de 1993 a 1998. Natural de Ribeirão Preto (SP), Raí foi campeão pelo São Paulo Futebol Clube e pela Seleção Brasileira. Em 2000, abandonou o futebol e virou empreendedor. Ao lado do também jogador Leonardo, criou a Fundação Gol de Letra em 1998, instituição que atua na educação integral de crianças e adolescentes carentes em São Paulo e no Rio de Janeiro. |
Pente espanhol Presente de aniversário da diretora de teatro Denise Del Vecchio, o pente espanhol foi usado por Maria Fernanda Cândido em sua estreia no palco. A peça era Anchieta, nossa história, e seu personagem se chamava Jaguarúna. O sucesso só veio anos mais tarde, com a novela Terra nostra, da TV Globo. Em 2008, 11 anos depois daquela estreia, Maria Fernanda voltou a usar o mesmo pente ao interpretar Capitu na minissérie homônima. Longe da tela, a atriz, formada em terapia ocupacional pela USP, realiza projetos de integração para deficientes físicos e mentais. |
Livro artesanal Presente dos alunos da Fundação Orsa, o livro contém a única foto da infância do empresário Sérgio Amoroso em que ele “ainda tinha cabelo”. Sua história é contada e ilustrada pelos garotos, num reconhecimento que emocionou o fundador da instituição. Paulista de Birigui e presidente do Grupo Jari, produtor de celulose no Amapá, Amoroso criou a Fundação Orsa em 1994 para desenvolver projetos sociais para crianças e adolescentes em situação de risco. São um milhão de atendimentos por ano. |
Máscara Desde 1999, a máscara é usada pela atriz gaúcha Leona Cavalli em Caminho das pedras, um espetáculo composto por uma série de oficinas, que funciona como uma jornada de reflexão. Adquirida em Porto Alegre (RS), a máscara transporta os projetos e afetos de Leona, que veio morar em São Paulo em 1990, onde se aprofundou na arte de interpretar. Por meio de suas oficinas, que integram vida artística, consciência pessoal e cidadania, a atriz ajuda os jovens artistas a compreender e planejar suas carreiras. |
Rabeca Desde pequeno, Antônio Carlos Nóbrega tinha vocação por música. Por isso, os pais o incentivaram a adquirir formação musical. Nos primeiros anos de aprendizado, o violino e os compositores clássicos foram seus companheiros. Aos 17 anos, conheceu a rabeca. Era o início dos anos 1970 e o escritor pernambucano Ariano Suassuna procurava um rabequeiro para o Quinteto Armorial. Impressionado com seu talento, Suassuna convidou Nóbrega a integrar o grupo, dando-lhe a sua primeira rabeca, feita por um artesão de Ferreiras, interior de Pernambuco. Dessa parceria surgiu uma música erudita brasileira de raízes populares. Em 1983, o multi-instrumentista, compositor e dançarino veio para São Paulo, onde dirige o Instituto Brincante, no qual promove oficinas e cursos sobre cultura brasileira. |
Broca de dentista Presente de Tarcísio Meira, o arcaico instrumento odontológico é mais do que uma peça decorativa na clínica de Fábio Bibancos. Ela resgata parte da história e representa também a solidariedade da família, dos pacientes e colegas. A broca remete ao início do Instituto Bibancos de Odontologia. Após lançar seu o primeiro livro, Um sorriso feliz para o seu filho, o dentista começou a ministrar palestras em escolas, dando orientações sobre saúde bucal. Aos poucos, percebeu que os estudantes da rede pública não tinham condições de seguir seus conselhos. Passou, então, a atender gratuitamente os casos mais graves. O número crescente de novos clientes induziu-o a criar uma rede de profissionais para dar assistência odontológica voluntária. Surgiu, assim, os Dentistas do Bem, uma organização que atua em nove países oferecendo tratamento odontológico a jovens carentes. |
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